Datos del trabajo


Título

A ESPIRITUALIDADE COMO FATOR DE PRAZER NO COTIDIANO DO ENFERMEIRO HOSPITALAR

Introdução

Nesta pesquisa buscamos compreender o sentido do trabalho para os enfermeiros de um hospital universitário na perspectiva da Clínica da Atividade. Yves Clot (2010) propõe estudar e experimentar através dessa clínica a função psicológica do coletivo em situação de trabalho. Busca manter ou restaurar a vitalidade dialógica do social pela análise do trabalho, propondo uma subjetividade potencial. Para Clot o desenvolvimento do poder de agir em situação de trabalho corresponde à atividade, é heterogêneo, aumenta ou diminui o prazer em função da alternância da ação que se opera no dinamismo da atividade. A compreensão de novos modos de agir por meio da autoconfrontação do sujeito coletivo permite reorganizar o trabalho de uma forma mais saudável para os trabalhadores. Partindo dessa perspectiva, compreendemos o enfermeiro como um ser em movimento, capaz de imprimir algo de singular naquilo de que participa e obter prazer por meio do trabalho realizado. Respeitar aspectos subjetivos existentes na atividade profissional constitui uma proteção à saúde, o que permite ao profissional agir de modo menos defensivo, mais espontâneo e próximo às suas carências e às dos pacientes. O poder de agir do trabalhador se conquista na coletividade, junto aos objetos que os reúnem ou dividem no trabalho. A dimensão do trabalho do enfermeiro tem repercussões para a saúde mental dos trabalhadores de enfermagem que lutam por um trabalho significativo e ético, em um contexto de reestruturação e precarização do trabalho. O sofrimento mental aparece como intermediário necessário à submissão do corpo (Dejours,1992, p.96). Ainda, a desorganização dos investimentos afetivos provocada pela organização do trabalho pode colocar em perigo o equilíbrio mental dos trabalhadores. O trabalho repetitivo cria a insatisfação, não se limitando apenas a um desgosto particular. De certa forma, é uma porta de entrada para a doença, descompensações mentais (Dejours, 2000, p.77). Um sinal de que é preciso implementar mudanças no cenário de prática, contudo essas mudanças ocasionam impactos na vida do trabalhador. Isso inclui valorizar a dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção (Souza, Passos, Tavares, 2015).

Objetivos

Analisar os processos subjetivos e movimentos dialógicos presentes nas atividades desenvolvidas pelos enfermeiros e o prazer proporcionado no seu cotidiano de trabalho no contexto hospitalar.

Método

A Pesquisa se caracteriza como abordagem qualitativa, baseada na perspectiva da Clínica da Atividade, desenvolvida por Yves Clot. Com a produção de dados por meio de oficina dirigida a oito enfermeiros que atuam no Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) da Universidade Federal Fluminense (UFF), situado na cidade de Niterói, RJ. Brasil. Oficinas constituíram dispositivo para produção e análise de dados no presente estudo. Os dados foram coletados em 2017. Em respeito aos aspectos éticos da pesquisa, atendendo aos requisitos das Resoluções 466/12 e 510/16 do CNS/MS, o projeto de pesquisa que originou o estudo (Souza, 2017), teve sua aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIRIO - CAAE: 52869316.0.0000.5285/ Número do Parecer: 1.520.821 e Comitê de Ética em Pesquisa da UFF - CAAE: 52869316.0.3001.5243 / Número do Parecer: 1.603.307. As análises ocorreram com base no Método e Teoria da “Clínica da Atividade”(Clot, 2007a; Clot, 2007b), o qual evidencia a importância de se dar atenção à subjetividade no trabalho, meio fundamental para levar a uma revisão do conceito de atividade. Para o autor, o significado de trabalho como atividade não pode ser definido como uma atividade qualquer entre outras, tendo como papel essencial exercer na vida pessoal uma função psicológica específica em virtude de ser ele uma atividade dirigida.

Resultados

O prazer no trabalho, para os enfermeiros participantes desse estudo, está relacionado principalmente à interação direta com o paciente e a valorização social da profissão. O acolhimento é apontado como a ação de maior valor – facilita o próprio processo de trabalho, por meio dele o paciente adquire confiança e credibilidade na enfermagem, gerando valorização social da profissão. A espiritualidade, foi apontada pelos enfermeiros como um fator de prazer é – através da relação com o paciente em sofrimento, o enfermeiro tem a oportunidade de trabalhar o silêncio interior como forma de auto-cura, à medida que entra em sintonia com o paciente se auto-transforma para ter mais saúde, potencializando-se. O trabalho também propicia oportunidades sociais e afetivas, a convivência contínua com os mesmos colegas ao longo da vida fortalece os vínculos de amizade, confiança e alegria. A oportunidade de criar e recriar o trabalho permite expressar a subjetividade por meio da atividade realizada, gerando evolução profissional e crescimento pessoal. O último item apontado como prazeroso foi a realização de atividades científicas e de ensino, por permitir ao trabalhador de enfermagem expandir-se e ampliar as possibilidades de socialização do conhecimento produzido no cotidiano do trabalho no ambiente hospitalar.

Considerações Finais

O trabalho do enfermeiro no contexto hospitalar é compreendido como fonte de produção de subjetividade. Os dados revelam o investimento dos enfermeiros para fortalecer sua identidade profissional visando o cuidado de qualidade. A despeito dos muitos anos de prática profissional dos enfermeiros participantes do estudo, demonstram encontrar prazer naquilo que fazem, apresentando-se potentes para agir diante aos desafios profissionais e organizacionais encontrados.

Palavras Chave

Enfermagem; Espiritualidade; Prazer; Saúde do Trabalhador; Hospital

Area

Processo de trabalho e profissionalização

Instituciones

UERJ - Rio de Janeiro - Brasil, UFF - Rio de Janeiro - Brasil, UNIRIO - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

Marilei de Melo Tavares, Glaudston Silva de Paula, Sérgio Corrêa Marques, Joanir Pereira Passos, Claudia Mara de Melo Tavares, Antônio Marcos Tosoli Gomes