Datos del trabajo


Título

SOCIABILIDADE, APOIO E DESESTIGMATIZAÇAO: UMA INVESTIGAÇAO SOBRE A TERAPIA COMUNITARIA

Introdução

Pretendemos discutir com este trabalho a relação entre saúde mental, sofrimento psíquico, estigmatização e desestigmatização. Mais especificamente, nos focaremos no processo de desestigmatização, a partir do estudo sociológico de uma tecnologia de promoção a saúde mental específica, chamada Terapia Comunitária. A Terapia Comunitária é uma tecnologia de promoção a saúde mental de âmbito primário, que ancora-se na comunidade partindo do resgate da cidadania e da identidade cultural. Seu propósito é a criação de uma rede solidária promotora das competências individuais e coletivas no que toca a atenuação dos sofrimentos trazidos pela vida cotidiana. Acreditamos que pensar sociologicamente sobre os ingredientes sociais que permeiam um fenômeno complexo como os transtornos psíquicos é importante e enriquecedor para a construção de um entendimento mais integral sobre o espectro saúde/sofrimento psíquico. Nossa intenção, ao tomá-la como objeto do nosso estudo, é discutir como a sociabilidade relaciona-se com o apoio e como este último impacta na superação de situações estigmatizantes. A premissa que nos orientou é a ideia de que as interações positivas contribuem para o aumento da sensação de bem-estar e da resiliência das pessoas em sofrimento psíquico. Para o estudo dos sofrimentos psíquicos em uma perspectiva sociológica, algumas discussões teóricas nos foram importantes. A partir delas, tomamos a loucura como um fenômeno polissêmico e complexo, que abrange também elementos sociais tanto na sua representação quanto nas práticas de cuidado, o que revela sua demanda por um olhar multidisciplinar. Ressalta-se ainda, como justificativa da análise sociológica sobre o tema, a liminaridade do fenômeno, a qual é responsável por colocar aqueles que carregam o rótulo de pessoas em sofrimento psíquico em posições socialmente marginais e desviantes, algo que fora recorrente no percurso histórico da loucura e que ainda pode ser percebido atualmente, mesmo em ambientes que deveriam estar livres deste tipo de situação. Entendemos que é exatamente esse elemento desviante intrínseco a loucura que desenvolve-se até permitir as situações de estigma. O estigma pode ser entendido como um fenômeno social relacional amparado em processos de comparação, identificação e desvalorização, que levam a difamação contínua do estigmatizado. No contexto dos transtornos mentais, o estigma opera um dano devastador, pois reduz laços sociais e possui uma lógica própria de difícil superação. Para atenuar isso e tantos outros males advindos dos sofrimentos psíquicos, o cuidado e a terapêutica, a partir do paradigma antimanicomial, baseiam-se em recursos que excedem aqueles estritamente biomédicos e que abrangem elementos psicológicos e sociais. Falando estritamente destes últimos, desejamos mostrar, com auxílio da sociologia das redes sociais, que a recuperação e a construção de novos laços sociais podem se manifestar como apoio para a pessoa em sofrimento psíquico, bem como superação do entendimento de que a pessoa em sofrimento psíquico é identitariamente apenas aquilo que é trazido pelo transtorno. Esse processo é fundamental para desestigmatização e nós intentamos demonstrar com nossa discussão que ele está ancorado nas características dos laços sociais, os quais ao formarem as redes sociais permitem acesso a um repositório de saberes e dizeres que transitam, se aglutinam, se cristalizam e se dissolvem com o passar do tempo, influenciando suas existências, ao mesmo tempo que são influenciados dinamicamente por esta vivência.

Objetivos

Nosso intuito com esse trabalho é demonstrar que através das redes sociais pessoas constroem capital social e gerenciam diversos recursos, dentre os quais o apoio necessário em situações de sofrimento psíquico. Por fim, queremos também apontar como as redes podem ser entendidas como espaços onde os atores dialogam sobre suas representações, tradições e cosmovisões, confrontando-as e repensando-as no processo, servindo-se nesses entremeios dos instrumentos para o enfrentamento do estigma e sua desconstrução.

Método

Nos debruçamos sobre a terapia comunitária através de uma pesquisa qualitativa. A pesquisa se compôs em sua primeira etapa de entrevistas semiestruturadas e relatos etnográficos confeccionados a partir de observação participante, bem como a aplicação de um questionário para determinação do perfil dos participantes da terapia. No que toca a nossa análise, recorremos a análise de conteúdo de cunho temático e categorial, a qual propiciou a construção de uma nuvem de palavras e de quadro temático, onde foi possível agrupar as categorias temáticas, de acordo com o conteúdo informacional das falas coletadas, em um quadro organizador.

Resultados

Através da nossa pesquisa, foi possível perceber que a terapia comunitária se manifesta como um espaço de equalização social, isto é, as pessoas de fato começam a se olhar como iguais, independente da existência ou ausência de um transtorno; além disso, essa tecnologia se mostrou como um lugar de aproximação e construção de novos laços, pois a sua própria dinâmica de funcionamento implica a construção de uma intimidade para aqueles que a frequentam assiduamente; por fim, também se encontrou uma tímida participação e colaboração em ambientes mais amplos da comunidade, como o posto de saúde e a associação, por exemplo.

Considerações Finais

Diante dos resultados expostos, desejamos discutir nossas seguintes considerações: acreditamos que tecnologia de saúde propiciou aos seus usuários a possibilidade de uma reinterpretação de si mesmos, de uma retomada e também a promoção de novos laços sociais, bem como um significativo estado de bem-estar ancorado na impressão de que se eles balançam em seus sofrimentos já não mais tendem a cair, pois encontram uns nos outros a âncora que precisavam para continuarem de pé.

Palavras Chave

Sociologia, Estigma, Terapia Comunitária, Saúde Mental, Desestigmatização

Area

Saúde Mental

Autores

Álvaro Botelho de Melo Nascimento, Breno Souto Maior Fontes