Datos del trabajo


Título

CORPOS SEM DENTES: COMPREENSAO DO SIGNIFICADO DA EXPERIENCIA DE PERDA DENTARIA

Introdução

Perder dentes é uma experiência que se reflete em mudanças corporais, mas também pode ter repercussões emocionais (diminuição da autoestima, dificuldades de socialização, sensação de envelhecimento e sentimento de constrangimento e humilhação), trazendo limitações às atividades sociais diárias e na qualidade de vidas das pessoas. A perda de dentes gera, ainda, uma grande demanda por tratamentos reabilitadores tornando-se um desafio para alcançar a integralidade da atenção à saúde. Diante da relevância do tema para a saúde pública e da importância de se conhecer os aspectos subjetivos que envolvem o saber construído no cotidiano de vida das pessoas, estudos qualitativos que busquem entender o significado e o processo pelo qual as pessoas constroem significados sobre o fenômeno da ‘perda dentária’ devem ser estimulados.

Objetivos

Esta pesquisa teve dois objetivos principais. Propôs-se a compreender o significado da experiência de perda dentária e a analisar a autopercepção da saúde bucal em usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) com perda dentária.

Método

Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, caracterizada como um estudo de caso, cujo campo de investigação foi o serviço de Atenção Primária à Saúde (APS)/Unidade de Saúde da Família, no município de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Os participantes de pesquisa foram os usuários do serviço de saúde bucal de uma Unidade de Saúde da Família (USF), adultos (35 a 44 anos) e idosos (65 a 74 anos), que utilizavam e/ou necessitavam de prótese dentária. As faixas etárias selecionadas foram as utilizadas nos dois últimos levantamentos epidemiológicos das condições de saúde bucal no Brasil. A produção de informações envolveu a análise documental de prontuários, observação com escrita de diários de campo e entrevistas semiestruturadas (guiadas por um roteiro), domiciliares, as quais foram gravadas e posteriormente transcritas. A consulta aos prontuários teve o objetivo de identificar os usuários desse serviço de APS que usavam e/ou necessitavam de prótese dentária. Como critério de inclusão, os usuários com perda dentária deveriam ter registrado no exame clínico bucal do prontuário a ausência, em qualquer das arcadas, de pelo menos um elemento dentário. Foram excluídos prontuários de usuários que estavam fora das faixas etárias selecionadas, ou que já não moravam mais no território da USF, ou que não tinham o exame clínico completo por terem acessado a Unidade para consultas de urgência. Nas entrevistas, a amostra foi intencional, seguindo o critério de fechamento amostral por saturação. As entrevistas foram conduzidas ao longo de 8 meses, sendo acompanhadas pelos Agentes Comunitário de Saúde (ACS). O material textual produzido foi interpretado pela análise de conteúdo proposta por Bardin, com o apoio do software Visual Qualitative Data Analysis (ATLAS.ti). A pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Prefeitura Municipal de Porto Alegre (PMPA). A perspectiva teórica seguiu o enfoque da fenomenologia, centrada na experiência vivenciada da perda dentária dentro dos contextos sociais do cotidiano em que ocorre e na percepção das pessoas que a experimentam.

Resultados

Participaram da pesquisa 66 usuários adultos e idosos da APS com perda dentária (parcial e total). A compreensão de como as pessoas percebem seus corpos sem dentes é que determina o quanto a experiência da perda dentária afeta suas vidas. As experiências foram plurais e impregnadas de memórias e sentimentos, expressando a subjetividade das pessoas, não podendo ser explicadas pelo paradigma da simplificação. A função social da boca marcou as narrativas dos entrevistados e o uso de próteses agregou valor ao corpo, permitindo o restabelecimento do equilíbrio desse corpo com o mundo. Adultos com perda dentária parcial e idosos edêntulos sem reabilitação protética ou com reabilitação em apenas uma das arcadas, relataram limitações envolvendo a mastigação, fala, sorriso, aparência física, emprego, convívio social, além dos sentimentos de constrangimento e vergonha provocados pela perda dos dentes. Quando as pessoas conseguiram manter suas atividades diárias de vida mesmo em situação de perda de dentes, a percepção negativa em relação à experiência não se estabeleceu. Os idosos mostraram um sentimento de conformismo e aceitação pela perda dentária, especialmente quando lembravam dos problemas passados relacionados à condição de seus dentes – ‘dente quebrado’, ‘dente que provocava dor’, ‘dente que incomodava’. A percepção da funcionalidade da prótese usada foi determinante para a autopercepção da saúde bucal nos adultos e idosos estudados. Em muitos relatos, a perda de dentes foi associada à produção ou mesmo reforço de estigmas e desigualdades sociais.

Considerações Finais

A perda dentária foi uma experiência associada a um corpo cuja boca tem uma importante função fisiológica e também social, de interação do ser com o mundo, do homem com a sociedade. Pesquisas de abordagem qualitativa que tragam o protagonismo de usuários do SUS podem caracterizar-se como um componente estratégico de avaliação da qualidade dos serviços de saúde, permitindo às pessoas que expressem suas percepções sobre as condições/necessidades de saúde, o que fortalece a participação social nos processos de planejamento em saúde.

Palavras Chave

Perda de Dente; Saúde Bucal; Qualidade de Vida; Sistema Único de Saúde; Pesquisa qualitativa.

Area

Saúde Bucal

Autores

Ramona Fernanda Ceriotti Toassi, Fernando Valentim Bittencourt, Helena Weschenfelder Corrêa