Datos del trabajo


Título

DISCUSSAO GRUPAL COM PROFISSIONAIS E GESTORES PARA UMA REDE DE ATENÇAO A SAUDE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM HIVE

Introdução

As crianças vivendo com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) ou com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids) exigem demandas de acompanhamento em saúde além do habitual, devido às especificidades de sua condição sorológica. Dentre as demandas, destaca-se o acompanhamento permanente de saúde e a dependência de tecnologia medicamentosa. No entanto, a deficiência de acesso aos serviços de Atenção Primária à Saúde (APS) resulta na afiliação aos serviços especializados. Recomenda-se que esses serviços especializados contem com os serviços de APS, visando a qualidade da atenção à saúde, preferencialmente sob coordenação da APS. Neste sentido a efetivação de uma Rede de Atenção à Saúde (RAS) pretende a integração entre os serviços, coerente com a política pública de saúde nacional.

Objetivos

Discutir a constituição da RAS às crianças e adolescentes com HIV em um município do interior do Rio Grande do Sul, Brasil.

Método

Estudo qualitativo, decorrente da etapa quantitativa do projeto matricial “Avaliação da atenção primária à saúde das crianças, adolescentes e gestantes com HIV”, que indicou, dentre as estratégias potencializadoras de alto escore da APS, a necessidade de reestruturação organizacional e articulação entre os serviços. A técnica de produção de dados foi Grupo Focal (GF), com etapa de campo desenvolvida no período de Maio a Julho de 2015. Elencou um município situado na região central do Estado do Rio Grande do Sul, no qual acessou três campos: a rede pública de APS do município (18 Unidades Básicas de Saúde e 13 Estratégias de Saúde da Família), o serviço federal de assistência terciária especializada no atendimento de crianças e adolescentes com HIV, localizado no ambulatório de pediatria do Hospital Universitário e o serviço municipal de assistência de atenção secundária especializada (Centro de Testagem e Aconselhamento - CTA). Os participantes foram profissionais desses serviços que atenderam aos critérios de inclusão: ser profissional atuante no ambulatório de pediatria do hospital universitário, da APS ou no CTA. Os critérios de exclusão foram: profissionais contratados que não pertencessem ao quadro efetivo do município ou aqueles que estivessem em atestado de saúde ou afastamento do trabalho no período de produção de dados desta pesquisa. Foram realizadas quatro sessões grupais com um total de 23 participantes. Foram conduzidas por uma moderadora (mestranda autora da pesquisa) e duas observadoras participantes (auxiliares da pesquisa), operacionalizadas conforme sete momentos-chave: abertura, apresentação, dinâmica de discussão participativa, estabelecimento do setting, debate, síntese e encerramento. As sessões tiveram duração de duas horas e foram audiogravadas. O banco de dados foi constituído pelas transcrições e registros dos diários de campos, submetidos à análise de conteúdo. Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob parecer 924.646/2014.

Resultados

A discussão grupal com os profissionais acerca da perspectiva de uma rede de atenção à saúde às crianças e adolescentes com HIV indicou que o modelo de atenção à esta população no município estudado está centrado no serviço especializado, influenciado por aspectos conceituais, estruturais e sociais. Os aspectos conceituais expressaram-se na cultura dos usuários e profissionais, de que essas crianças e adolescentes precisam, majoritariamente, de acompanhamento permanente de saúde em um serviço especializado e não questionam esta centralização. Os aspectos estruturais relacionam-se à gestão, estrutura física e de pessoal. Os aspectos sociais também influenciam a centralidade no serviço especializado, como o estigma do próprio usuário em relação a sua condição de saúde, o preconceito e a ausência de ética entre profissionais e a população estimula a resistência do usuário em revelar a sua condição sorológica para o profissional. Diante da necessidade de reorganizar o modelo de atenção fragmentado discutiram-se as atribuições de cada serviço no atendimento a essa população. Pactuou-se como deve ser realizada a atenção centrada na necessidade do usuário e compartilhada entre os pontos de atenção. Os profissionais debateram como poderia se dar o caminho para promover a descentralização, reconhecendo-o como linha de cuidado. Construiu-se um fluxo de atenção à saúde às crianças e adolescentes com HIV, o qual, na percepção dos profissionais, fará com que os pontos se corresponsabilizem pelo atendimento desta população. Foram definidos os nós (atribuições de cada ponto de atenção) e a organização e logística de atendimento compartilhado entre os pontos da RAS. O serviço especializado foi reconhecido como aquele que presta diagnóstico, aconselhamento, avaliação e tratamento, além do seguimento de populações mais vulneráveis. Os serviços de APS como responsáveis pelo acolhimento, prevenção e promoção, os quais devem ser estruturados para papel da APS de coordenadora do cuidado, porta preferencial de acesso. Os profissionais indicaram que o atendimento nos pontos seria organizado de acordo com a idade, com a estratificação de risco como uma estratégia para o cuidado compartilhado. Foi discutida a pactuação de ações necessárias à efetivação da RAS: as transferências dos usuários entre os pontos, contato telefônico para promover a coordenação do cuidado, registro, busca ativa e monitoramento, e profissional de referência nos serviços.

Considerações Finais

Os resultados desse estudo apontam perspectivas de mudança para a constituição da RAS de crianças e adolescentes com HIV em uma cidade no interior do RS. As discussões proporcionaram o entendimento de que essa população vem recebendo a sua atenção à saúde com base em um modelo fragmentado com predomínio de ações curativas, centradas no enfrentamento e controle da epidemia, no atendimento clínico e em consultas especializadas. Na tentativa de reorganizar esse modelo, a organização da linha de cuidado e a criação do fluxo de atenção à saúde das crianças e adolescentes com HIV é a chave para promover uma atenção à saúde de qualidade a essa população. É necessário investimento dos órgãos envolvidos para disponibilizar recursos para exeqüibilidade do fluxo, para além da clínica tradicional.

Palavras Chave

Redes de Atenção. Saúde da Criança. Saúde do Adolescente. HIV.

Area

Doenças Transmissíveis

Instituciones

UFSM - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

Daniela Dal Forno Kinalski, Raquel Einloft Kleinubing, Stela Maris Mello Padoin, Eliane Tatsch Neves, Cristiane Cardoso Paula