Datos del trabajo


Título

CORPO E REPRESENTAÇÃO MENTAL DA VIOLÊNCIA EM MULHERES FRENTE AO EXAME DE CORPO DELITO

Introdução

Este trabalho de cunho investigativo, procura descrever e analisar o corpo e a discursividade de mulheres que sofreram violência domestica ao realizarem o exame de corpo delito no Instituto de Perícias, em uma cidade do interior do RS/Brasil.

Objetivos

Os objetivos do trabalho são o de discutir a racionalidade médica na identificação e representação da violência de gênero, ao mesmo tempo que, pretende contribuir para uma reflexão sobre a importância da escuta das mulheres durante os procedimentos, como forma de tornar representável a violência vivenciada.

Método

Para o estudo optamos pelo método qualitativo (MINAYO, 2010) de registro de dados de pesquisa, nos moldes propostos de estudos etnográficos (ROCHA;ECKERT, 2008) e , ao empregar o método de observação-participante na instituição de acolhimento e cuidados com mulheres sujeitas a violência doméstica, enfica, com especial atenção, as dimensões das trocas intersubjetivas envolvendo a pesquisadora e suas parceiras de pesquisa. Os registros etnográficos seguiram os formatos clássicos da tradição da pesquisa antropológica tais como o uso de diário de campo (MALINOWSKY,1937/1976), de relatos de observação participante (FOOTE-WHITE, 1975), de notas visuais de campo (SAMIAN, 1995), ao longo de todas visitas que foram realizadas no Instituto de Perícias.

Resultados

A partir de dois recortes teórico-conceituais, o do campo da Antropologia e da Psicanálise, procuro debater sobre esses corpos representados como “violados” no imaginário coletivo e social e, as subjetividades dessas mulheres, apresentadas pelo discurso do corpo agredido. Para isso, serão apresentados dois discursos extraídos dos diários de campo da pesquisadora. Todos os nomes das parceiras da pesquisa são fictícios na intenção de preservar o sigilo de suas identidades. O corpo como dimensão de reflexão para o presente trabalho é considerado como palco dos dramas de violência vividas pelas mulheres em seu lares e, demarcam a sua condição subjetiva de ser mulher nesse espaço doméstico. Nas cenas de violência relatadas procura-se refletir, de um lado, sobre o evento traumático nos moldes da segunda tópica freudiana (FREUD, 1920/1996), ou seja, como fenômeno que decorre da impossibilidade de ligação e transcrição do acontecimento, quando os efeitos sofridos das ações de violência sofridos e vividos apresentam-se de forma negativa como danos narcísicos. Na perspectiva da racionalidade médica (PINTO, 2002), o saber ver os efeitos físicos aparentes da violência, se revela como uma das práticas mais utilizadas pela medicina. Dessa forma, o exame de corpo delito se torna instrumento fundamental para a identificação, descrição e elaboração do laudo, a partir do qual a mulher é ou não considerada “agredida” e “violada” em sua integridade pessoal. Entretanto, ampliando o debate sobre a segunda tópica freudiana, por outro lado, o trabalho incorpora no debate os estudos antropológicos sobre a construção social da ‘pessoa moderna’ e de gênero, na reflexão acerca das discursividades femininas sobre a violência doméstica e os significados singulares que as mulheres atribuem às agressões e abusos por elas vividas, e que abrem a possibilidade de incorporar as ameaças as suas subjetividades à técnica do olhar e do ver na racionalidade técnica do “exame de corpo de delito”. É importante destacar que pelos depoimentos realizados pelas usuárias do serviço, buscamos aprimorar nossa forma de “leitura” da violência, propiciando um espaço no qual o sujeito possa fazer uso da palavra e da interação com a pesquisadora, a fim de que ali apareça sua subjetividade diante do traumático vivido, ampliando o olhar para além do corpo agredido ou violado.

Considerações Finais

A partir dos recortes trazidos e das reflexões propostas, procuramos refletir sobre a importância do método de observação-participante, de cunho antropológico, para conhecer o contexto individual e social no qual transitam as nossas colaboradoras de pesquisa. Para além disso, o trabalho reflete sobre a ampliação do olhar da racionalidade médica, incluindo, a escuta baseada na atenção livre e na interação entre a pesquisadora e participantes, aliada aos discursos produzidos pelas mulheres em situação de violência, as quais podem utilizar desses espaços sociais para aumentar sua visibilidade em relação às suas condições sociais, afetivas e subjetivas. Dessa forma corpo, imagem e representação do traumático vivido pode ser considerado como preventivo e promotor da saúde dessas mulheres.

Palavras Chave

Violência de gênero, exame de corpo delito, intervenção.

Area

Violências e Saúde

Autores

RAQUEL FURTADO CONTE, Ana Luiza Carvalho da Rocha