Datos del trabajo


Título

SENTIDOS E PRATICAS DA GESTAO DO PROCESSO DE TRABALHO NA REITORIA DE UM INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇAO NO NORDESTE

Introdução

Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IF) são instituições de educação profissional e superior, com autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar, sendo equiparadas às universidades federais. Para essa pesquisa, investigou-se a gestão do processo de trabalho dos servidores de um desses institutos, localizado em um estado do nordeste brasileiro. Composto pela Reitoria, cinco Pró-reitorias e 16 campi localizados na capital e interiores, engloba pesquisa, extensão e ensino desde a formação básica à pós-graduação. Sua comunidade acadêmica é composta pelos corpos discente, docente e técnico-administrativo em educação (TAE). A educação representa a atividade-fim da instituição, os corpos discente e docente destacam-se como atores principais. Entretanto, o trabalho de apoio técnico, administrativo e operacional prestado pelos TAEs é determinante para a produção da atividade-fim. A área de atuação dos TAEs é abrangente, distribuída nos níveis de formação fundamental, médio e superior. Considera-se que o trabalho tem lugar central na construção da identidade, na realização pessoal e nos processos de saúde/doença. O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, no Decreto nº 6.833/09, indica assistência à saúde do trabalhador como ações visando a prevenção, a detecção precoce e o tratamento de doenças, e promoção e prevenção como ações que objetivam intervir no processo de adoecimento do servidor no aspecto individual e nas relações coletivas no ambiente de trabalho; porém, a redução de investimentos, leva ao enfraquecimento da assistência à saúde do servidor federal.
Atualmente há a necessidade de realização de estudos que contextualizem o trabalho dessa categoria, descrevendo suas vivências de prazer e sofrimento, aprofundando a questão e contribuindo na construção de políticas públicas mais próximas das necessidades desses trabalhadores. Dentro desse contexto e com o referencial teórico da Psicodinâmica do Trabalho, a pesquisa, baseia-se na observação da subjetividade e na investigação da normalidade e não da patologia, procurando compreender quais estratégias e mecanismos são acionados ou disparados pelos TAEs diante das pressões ocorridas nos processos do trabalho.

Objetivos

Conhecer os sentidos e práticas dos técnico-administrativos do IF, relacionadas à gestão do trabalho, associadas à geração de prazer, sofrimento e adoecimento.

Método

Estudo constituído pela escuta das vivências dos trabalhadores, visando o aprofundamento da compreensão da realidade vivida, com intuito de construir estratégias coletivas de liberdade. A investigação foi aprovada pelo CEP sob o CAEE 66633017.3.0000.0039. A abordagem qualitativa foi caracterizada por apropriação da linguagem e suas formas de expressão como o material de pesquisa. Dados foram produzidos no período de 01 de junho a 10 de julho de 2017 através das técnicas de Entrevista Semiestruturada, que possibilitou ao entrevistado discorrer sobre o tema sem respostas ou condições prefixadas e, Diário de Campo, que constituiu-se pelas impressões pessoais do pesquisador, descritas durante o processo investigatório. Os sujeitos foram 22 trabalhadores da Reitoria e das Pró-reitorias.

Resultados

Ao serem estimulados a falar sobre o que provoca prazer, sofrimento ou adoecimento nos processos de trabalho, os participantes expressaram o que vivem, sentem e percebem. Destacaram o prazer quando vivenciam situações de cooperação, camaradagem e empatia, aproveitamento das suas aptidões profissionais, participação na organização do trabalho, reconhecimento das chefias, reconhecimento do propósito do próprio trabalho, construção da identidade individual e coletiva, contribuições da instituição ao engajamento dos sujeitos. Quanto às percepções de sofrimento, expuseram, entre outros aspectos, intensificação de trabalho, regras institucionais inflexíveis, pouca liberdade na organização do trabalho, desengajamento, responsabilidades ao assumir funções gratificadas ou substituição de chefias, demandas políticas, desmotivação, riscos do serviço público, burocracia, falta de reconhecimento e diferenciação quanto ao tratamento concedido para TAEs e docentes. Quanto ao adoecimento destacaram aspectos como elevada carga psíquica, baixa significância da doença, individualização e culpabilização.
Assim como apontado pela Psicodinâmica do Trabalho, a subjetividade das relações organizacionais determinou vivências que seguiram do prazer ao adoecimento. Evidenciamos situações conflituosas que geraram adoecimento nos TAEs e desencadearam mudanças de atitudes e comportamentos na busca pelo reestabelecimento da saúde e prazer. O apoio e reconhecimento entre os pares mostrou sua importância, entretanto, sua falta produziu situações conflituosas, que apesar de negadas pelos participantes, tornaram-se evidentes à observação da pesquisadora durante a realização das entrevistas. Enquanto alguns servidores sinalizam sintomas de adoecimento como normais, negligenciando ou disfarçando conflitos velados, outros demonstram maior consciência das próprias vivências, e buscam alternativas através de enfrentamento direto. Suportar situações devastadoras interpretando-as como comuns ou normais evidencia a necessidade de aprofundar o entendimento do que é estar ou não saudável. Importante é a criação de canais de discussão, permitindo tanto a propagação das ações positivas, individuais e coletivas, quanto a expressão das angústias e frustrações, construindo uma rede de colaboração entre TAEs, e entre TAEs e a gestão institucional.

Considerações Finais

As cadeias de relações humanas direcionam as vivências dos TAEs para uma encruzilhada, onde de um lado encontramos servidores subsidiados no enfrentamento de conflitos, e de outros servidores ilhados em solitárias lutas subjetivas. O compartilhamento e disseminação das experiências exitosas contribuiria para o resgate dos ilhados e a transmissão de habilidades individuais de enfrentamento apresentadas por alguns servidores poderiam atuar como “descongestionantes” emocionais, tendo em vista a importância da influência da coletividade. Existe a necessidade de um alinhamento de atribuições e competências dos gestores, pois a organização é agente responsável por efeitos danosos ou positivos causados ao funcionamento psíquico do trabalhador. Códigos corporais claros de desconforto e descontentamento apresentados durante a investigação demonstram uma luta pelo auto convencimento de que não é possível o confronto e resolução de conflitos existentes. Ações guiadas por tais descobertas gerarão o fortalecimento do desenvolvimento do trabalho não apenas desta instituição mas da Rede Federal de Ensino, fomentadora da cidadania no país.

Palavras Chave

Area

Gestão de Serviços de Saúde

Autores

Nailena Maika da Rocha Vieira, Mara Cristina Ribeiro, Renata Guerda de Araújo Santos, Sônia Maria Soares Ferreira, Luciano Bairros da Silva, Karine da Silva Santos