Datos del trabajo


Título

O MAPA CORPORAL NARRADO SUSTENTADO PELA TEORIA SOCIAL CRITICA COMO POSSIBILIDADE PARA AS PESQUISAS QUALITATIVAS EM SAUDE

Introdução

Nesse trabalho examinamos o mapa corporal narrado como possibilidade para a pesquisa qualitativa, abordagem que tem sido cada vez mais utilizada pelas ciências da saúde. Acreditamos que a constante busca por inovações metodológicas no campo das ciências deve possibilitar a ruptura paradigmática visando a integração entre teoria, método e pesquisa. O uso de novas metodologias vem de encontro à operacionalização de pesquisas que utilizem abordagens cada vez mais problematizadoras e reflexivas. Dessa forma, é possível engajar os agentes no processo da pesquisa, permitindo uma participação mais ativa. As pesquisas qualitativas são subsidiadas pelos estudos sociológicos exigindo que o pesquisador esteja ciente da sua postura epistemológica, bem como, das implicações ligadas à subjetividade do objeto estudado, suas distintas axiologias e a linguagem adotada pela pesquisa. A ausência de sustentação teórica confina o trabalho à racionalidade da pesquisa e a sua utilização como técnica, comprometendo a sua validade. Assim, as bases deste tipo de pesquisa demandam que uma teoria maior norteie o projeto, seja ela oriunda das ciências sociais ou postulada em uma prática social específica.

Objetivos

Refletir sobre a utilização do método de mapa corporal narrado sustentado pela teoria social crítica.

Desenvolvimento

O mapa corporal narrado se refere a um método de geração de dados primários utilizado para engajar os participantes na reflexão de temas cotidianos. No contexto da pesquisa científica, a técnica pode ser realizada sozinha, com a geração de imagens ou como aporte de outras técnicas como entrevistas e narrativas. Utilizamos a técnica para analisar participantes de duas práticas corporais no contexto da promoção da saúde: a dança e a capoeira regional. Contamos com nove participantes em cada grupo e ao todo foram realizados 18 mapas corporais. Os temas dos encontros foram: corpo e práticas corporais, estilo de vida e saúde; condições de vida; limites e desafios. Foram realizados, no mínimo, três encontros com cada participante, cada um com duração média de uma hora. O percurso sugerido pelo roteiro partiu do microespaço do corpo, realizando o seu delineamento e ao longo dos encontros, os atores sintetizavam experiências relacionadas à sua vida. Ao final, o mapa corporal narrado era composto por três elementos: a narrativa, o mapa corporal em tamanho natural e a legenda, descrevendo os elementos contidos no mapa. Os aspectos éticos concernentes à técnica estão ligados à aplicação da metodologia, o fornecimento de informações e detalhes que possam comprometer o sigilo. Nosso intuito não foi o de dissociar teoria e método, em realidade, pretende-se mostrar como os conceitos e as relações podem, nesta técnica, articularem-se e servir como referência ao trabalho científico. Assim, este estudo adotou como aporte teórico-metodológico a teoria de Bourdieu que se apresenta como opção para as pesquisas desenvolvidas nas ciências da saúde, principalmente as que se propõem a fazer uma interface social. Trabalhamos os conceitos bourdieusianos de habitus e hexis corporal. Quando nos referimos a habitus, estamos falando de uma espécie de estrutura incorporada que será percebida no campo microssocial. O conceito opõe-se ao estruturalismo, que considera os sujeitos ativos e atuantes, contudo simples epifenômenos da estrutura o que os torna igualmente deficientes. Também rompe com algumas contradições socialmente impostas e fortes: indivíduo/sociedade, individual/coletivo, consciente/inconsciente, interessado/ desinteressado, objetivo/subjetivo, dentre outros. O habitus possibilita a legitimação do agente como operador prático de construções de objeto, incorporando a unidade de estilo que vinculam as práticas e os bens de uma agente singular ou de uma classe. Reconhecendo que os agentes não são inertes e reagem às estruturas e forças do campo, atravessando o espaço social e transpõe o coletivo e o individual. A aquisição do habitus está intrinsecamente associada à hexis corporal, ou seja, a forma como nos portamos, as diferentes maneiras de se expressar socialmente fazem parte da maneira particular de cada um ocupar o espaço social. A investigação qualitativa por intermédio do mapa corporal foi capaz de provocar a reflexão e proporcionar uma melhor compreensão das condições sociais reveladas na pluralidade de estruturas indicadas nos mapas. Reconhecemos que o ato de pesquisar implica na interferência (proposital ou não) na vida dos agentes. Apesar de percebida no microespaço, a hexis é facilmente transposta às outras esferas e auxiliam na compreensão da sociedade. A representação subjetiva dos corpos e mais profundamente da hexis corporal, acontece por meio de um sistema de classificação social. Quer dizer que os corpos ocupam uma posição social proporcional à distribuição de propriedades fundamentais, como fatores hereditários, que determinam a altura, ou a possibilidade de frequentar um clube e realizar aulas de natação, por exemplo. Assim, diferentemente da postura assumida por alguns estudos que dispõe seus participantes de forma sujeitada, subordinada e dependente, a utilização do método permitiu uma nova racionalidade nesta interação. O mapa proporcionou ao participante se perceber como protagonista, parte integrante e ativa no processo da pesquisa. Foi possível verificar como os corpos se comportam, sem reduzi-los à imagem corporal, mas como representação objetiva do corpo produzido em contínua interação com o outro.

Considerações Finais

O uso do mapeamento corporal narrado referenciado pelos conceitos bourdieusianos, garantem sentido e conferem ao trabalho condições para a produção científica. Como o processo de geração de dados acontece ao longo da estruturação da pesquisa é possível analisar representações da atividade material e das relações sociais. Entendemos que a busca por inovações e referenciais metodológicos que ajudem a subsidiar as pesquisas em saúde são cada vez mais importantes não apenas para a análise dos dados, mas, como forma de auxiliar a construção de instrumentos que possibilitem a mudança das determinações sociais às quais estamos expostos. Decerto, não se trata de uma dualidade, mas da compreensão do corpo na perspectiva da autoimagem de seus agentes e da sua determinação pelo meio. A teoria crítica auxilia na compreensão da estrutura das práticas corporais principalmente no que diz respeito aos processos institucionalizados. Acreditamos que a realização do mapa corporal narrado com este aporte teórico é benéfica ao campo da saúde, onde é possível estudar os conteúdos sociológicos e o seu limiar biológico.

Palavras Chave

Pesquisa Metodológica; Pesquisa Qualitativa; Sociologia; Pesquisa Científica e Desenvolvimento Tecnológico.

Area

Promoção da saúde

Instituciones

Université de Toulouse - - France, Unversidade Federal de Minas Gerais - Minas Gerais - Brasil

Autores

Juliana Alves Viana Matos, Kênia Lara Silva, Marie Carmen Garcia