Dados do Trabalho

Título

Declínio cognitivo após meningite pneumocócica experimental: relação eixo intestino-cérebro

Introdução

Meningite bacteriana por Streptococcus pneumoniae causa inflamação em meninges e espaço subaracnóideo. Apesar da vacinação, a mortalidade continua alta. Nos sobreviventes, 30-55% evoluem com sequelas neurológicas, como perda auditiva, comprometimento cognitivo e epilepsia. Os danos podem ser explicados, em parte, pelo eixo microbiota-intestino-cérebro, que correlaciona disfunções intestinais, como a disbiose, e déficits neurológicos. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos de alterações intestinais e inflamatórias em parâmetros comportamentais após meningite pneumocócica experimental.

Método

Neste estudo prospectivo experimental, a S. pneumoniae foi cultivada e inoculada na cisterna magna de 12 ratos Wistar machos (grupo meningite) e solução salina estéril em outros 12 animais (grupo controle). Confirmada a meningite, foi administrado Ceftriaxona (100mg/kg), 2 vezes ao dia, por 7 dias. Após 10 dias da indução da meningite, foi realizado o teste comportamental de esquiva inibitória. Em seguida, foram dissecados hipocampo e córtex pré-frontal (análise de mediadores inflamatórios), com subsequente coleta do íleo (histologia e comprimento das vilosidades e profundidade das criptas intestinais).

Resultados

Houve aumento nos níveis de Fator de Necrose Tumoral alfa (TNF-α) e Interleucina 1 beta (IL-1β) no córtex pré-frontal do grupo meningite. Não ocorreram alterações no nível de citocinas no hipocampo, bem como nas dosagens de Interleucina 6 e Interleucina 10 nas estruturas analisadas. Em relação às modificações intestinais, foi observada uma diminuição no comprimento das vilosidades e na profundidade das criptas do íleo. Por fim, quanto ao teste comportamental de esquiva inibitória, os dados demonstraram danos na memória aversiva dos animais, indicando prejuízo na retenção da memória previamente adquirida.

Conclusão

O estudo evidenciou a relação entre parâmetros inflamatórios cerebrais e dano das estruturas intestinais, associados à disfunção cognitiva após a meningite pneumocócica. Com os resultados obtidos, foi possível elucidar a relação entre a inflamação do sistema nervoso central e a microbiota intestinal. Dessa forma, um novo olhar pode ser aplicado em possíveis intervenções, com o objetivo de minimizar as sequelas resultantes do processo inflamatório associado à meningite pneumocócica.

Bibliografia

GENEROSO, Jaqueline S. et al. The role of the microbiota-gut-brain axis in neuropsychiatric disorders. Brazilian Journal Of Psychiatry, [S.L.], v. 43, n. 3, p. 293-305, jun. 2021. EDITORA SCIENTIFIC.
KLOEK, A.T. et al. Long-term neurologic and cognitive outcome and quality of life in adults after pneumococcal meningitis. Clinical Microbiology And Infection, [S.L.], v. 26, n. 10, p. 1361-1367, out. 2020. Elsevier BV.
BEEK, Diederik van de et al. Community-acquired bacterial meningitis. The Lancet, [S.L.], v. 398, n. 10306, p. 1171-1183, set. 2021. Elsevier BV.