Dados do Trabalho
Título
Endocardite Infecciosa secundária a colesteatoma infectado: um relato de caso.
Introdução
A Endocardite Infecciosa (EI) é uma infecção do endocárdio e/ou de suas válvulas, sejam elas nativas ou prostáticas. Aproximadamente 1 a 6% dos pacientes com valvas prostáticas terão EI. As manifestações clínicas são inespecíficas, dificultando o reconhecimento precoce. Até o momento, não foram encontrados casos na literatura de EI secundária a um colesteatoma infectado. Diante disso, é fundamental enriquecer as evidências científicas ao demonstrar possíveis apresentações clínicas da doença, facilitando o reconhecimento precoce e o tratamento adequado.
Método
Estudo retrospectivo, descritivo e observacional, do tipo relato de caso.
Descrição do Caso
Masculino, 59 anos, histórico de revascularização miocárdica e uso de prótese metálica devido prolapso mitral. Deu entrada no serviço de saúde com dor torácica irradiada para a região mandibular, odinofagia e otalgia à esquerda há 1 dia. Troponinas e eletrocardiograma normais. Foi iniciado tratamento com levofloxacino e solicitada ressonância magnética de encéfalo e osso temporal, que confirmaram o diagnóstico de otite média crônica colesteatomatosa em orelha esquerda com agudização. Devido ao cumarínico, optou-se por internamento para tratamento com ceftriaxona endovenoso. O escore VIRSTA foi de 13 pontos - alta probabilidade de EI, sendo adicionado vancomicina e gentamicina. Três pares de hemoculturas e dois ecocardiogramas transtorácicos não evidenciaram sinais de EI. Na secreção de ouvido, foi identificado S. aureus. A equipe da otorrinolaringologia descartou a necessidade de intervenção cirúrgica. No entanto, o paciente evoluiu com sintomas neurológicos - paresia de membro superior esquerdo, da face e da língua. Confirmou-se um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico lacunar de origem embólica com "dysarthria-clumsy hand syndrome" recorrente, durante o quadro infeccioso. Um ecocardiograma transesofágico evidenciou imagem de vegetação na prótese mecânica mitral com "leak" paravalvar, sendo hospitalizado para tratamento de endocardite infecciosa de prótese e troca valvar.
Conclusão
A EI é uma condição rara e demanda tratamento agressivo, com terapia antimicrobiana adequada, monitoramento de complicações e avaliação de intervenção cirúrgica. Os sintomas podem mimetizar diversas doenças rotineiras, podendo apresentar-se como um AVC sem etiologia conhecida. Considerando a alta morbimortalidade envolvida nessa condição, o manejo adequado é fundamental para o prognóstico dos pacientes.
Bibliografia
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Área
Clínica Médica
Categoria
Transversal
Instituições
Hospital Regional Alto Vale (HRAV) - Santa Catarina - Brasil
Autores
NICOLAS RAMOS, GUSTAVO BARBOSA DAVID, JOAO LUIS BEBER