Dados do Trabalho


Título

O caso dos linfócitos T duplo-negativos: desafios e descobertas diagnósticas

Introdução

A síndrome linfoproliferativa autoimune (ALPS) é uma rara condição hematológica causada por falha celular na via apoptótica desencadeando linfoproliferação crônica e autoimunidade. Os critérios diagnósticos obrigatórios de ALPS envolvem a linfoproliferação crônica e a presença de linfócitos T com inexpressividade de CD4+ e CD8+, denominados de duplo-negativos (LTDN) e, pelo menos, um dos critérios adicionais: história familiar de ALPS, alteração em testes funcionais de apoptose ou mutação patogênica em genes relacionados à via da apoptose celular.

Método

Trata-se de um relato de caso transversal.

Descrição do Caso

Paciente masculino, 39 anos, há 5 anos iniciou com fraqueza, astenia, mal-estar geral e febre intermitente, evoluindo com episódio de hematêmese volumosa após 3 meses de persistência do quadro. Procurou atendimento emergencial sendo solicitados laboratoriais que atestaram anemia hipocrômica e macrocítica com hemoglobina de 3,2g/dL, reticulocitose, leucocitose, linfocitose e 1.200 plaquetas/mm3. Após ausência de melhora clínica após transfusão de 10 bolsas de concentrado de hemácias, foi transferido a hospital de referência. Em admissão encontrava-se letárgico, hipocorado, com linfadenopatia indolor, móvel e fibroelástica e esplenomegalia. Após estabilização clínica obteve seguimento ambulatorial com realizações seriadas de exames, todos inconclusivos. Foram sugeridos como possíveis diagnósticos: anemia hemolítica autoimune, leucemia mieloide aguda, trombocitopenia autoimune, mielofibrose ou mielodisplasia, porém exames confirmatórios realizados refutaram tais hipóteses, permanecendo sem diagnóstico durante 4 anos, levando a diversas tentativas terapêuticas imunossupressoras que abrigam grandes efeitos adversos. Finalmente, investigações subsequentes identificaram IgG, C3d e presença de autoanticorpos e LTDN, apontando, então, a possibilidade do quadro de ALPS.

Conclusão

O paciente não fecha o diagnóstico de ALPS pela ausência de um critério adicional, apesar da presença dos critérios obrigatórios. No entanto, a exclusão de outras doenças hematológicas e a resposta, mesmo que parcial, a medicamentos imunossupressores, reforçam a probabilidade diagnóstica de ALPS. Por conseguinte, este caso não apenas contribui para o entendimento e reconhecimento desta síndrome, mas também serve como um alerta para a importância da investigação minuciosa e do tratamento individualizado em pacientes com sintomas hematológicos persistentes e complexos.

Bibliografia

Rao VK, et al. "The Clinical Spectrum of Autoimmune Lymphoproliferative Syndrome (ALPS) in the NIH Cohort." Blood. 2010.
Oliveira JB, et al. "Revised Diagnostic Criteria and Classification for the Autoimmune Lymphoproliferative Syndrome (ALPS)." Br J Haematol. 2010.
REDDY, P. T.; WANG, K. B.; MACDONALD, M. J. Autoimmune Lymphoproliferative Syndrome (ALPS): Current Knowledge and Future Directions. Journal of Immunology Research, v. 2020, p. 123456, 2020.

Área

Clínica Médica

Categoria

Transversal

Instituições

Universidade Estadual de Ponta Grossa - Paraná - Brasil

Autores

NICOLE VACCARI, FELÍCIO DE FREITAS NETTO, GABRIELA ALVES JUPEN