Dados do Trabalho
Título
POTENCIAL GERMINATIVO DE SEMENTES DE ALGODAO COM DIFERENTES NIVEIS DE DANOS MECANICOS VISIVEIS
Introdução
A produção de algodão (Gossypium hirsutum) é uma das principais atividades agrícolas do Brasil, sendo responsável por R$16,1 bilhões do PIB brasileiro (CEPEA, 2020). A principal utilidade do algodoeiro são as fibras, que são exportados para diversos lugares do mundo, e abastecem a indústria têxtil, além de possuir o caroço, que poderá ser utilizado para a produção de semente, ou na alimentação animal, como torta e óleo (ABRAPA, 2020).
A danificação mecânica, juntamente com a mistura varietal, é apontada como um dos mais sérios problemas da produção de sementes. A danificação mecânica é consequência, na sua maior parte, da mecanização das atividades agrícolas, sendo um problema praticamente inevitável e o conhecimento de como ela ocorre e dos fatores que intervêm na sua intensidade podem facilitar seu controle (CARVALHO; NAKAGAWA, 2000). Os danos mecânicos são provocados principalmente durante as operações de colheita e beneficiamento (FLOR et al., 2004). Como consequência, as sementes apresentam-se quebradas, trincadas, fragmentadas, arranhadas e internamente danificadas.
Resumo
O objetivo desta pesquisa foi avaliar a influência de diferentes níveis de dano mecânico na qualidade germinativa de sementes do algodoeiro. O experimento foi conduzido no delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial (3x2), sendo três níveis de dano mecânico (leve, médio e alto) e dois tratamento químico (com e sem tratamento), e quatro repetições. Foram avaliados germinação, índice de velocidade de germinação, primeira contagem de germinação, emergência, índice de velocidade de emergência, germinação à baixa temperatura, envelhecimento acelerado.Os resultados indicaram que os níveis de dano mecânico nas sementes de algodão afetam negativamente a germinação e o vigor das sementes, e a qualidade das plântulas. No entanto, o percentual de germinação e o vigor por envelhecimento acelerado, os efeitos do nível de dano mecânico dependem do tratamento químico. O tratamento químico de sementes com dano mecânico alto reduz a germinação das sementes e danos mecânicos baixo e médio o tratamento químico de sementes manteve a qualidade fisiológica das sementes de algodão.
Objetivos
O trabalho teve como objetivo avaliar a influência de diferentes níveis de dano mecânico na qualidade fisiológica de sementes do algodoeiro tratadas ou não quimicamente.
Material e Método
O experimento foi realizado na Usina de Deslintamento de Sementes de algodão da empresa J&H Sementes, situada na rodovia BA-242, na cidade de Luís Eduardo Magalhães- BA. O experimento foi conduzido no delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial (3x2), sendo três níveis de danos mecânicos e dois tipos de tratamento químico de sementes (com e sem tratamento) e quatro repetições. Os níveis de danos mecânicos adotados foram: T1= danos mecânicos leve (com fissuras na semente) T2= danos mecânicos médios (com fissuras e trincados), T3= danos altos (com cortes até atingir o embrião). O tratamento químico consistiu de 300 ml de Dynasty, 600 ml de Cruiser e 300 ml de Avicta, totalizando 1.200 ml de produtos para cada 100 kg de semente.
Durante a condução do experimento as sementes foram submetidas as seguintes avaliações:a) Germinação (G): Quatro repetições de 50 sementes por parcela e realizado segundo as especificações contidas nas Regras de para Análise de Sementes (Brasil, 2009). b) Índice de Velocidade de Germinação (IVG): A determinação do índice de velocidade de germinação foi realizada em conjunto com teste padrão de germinação (Brasil, 2009) e o cálculo do Índice foi realizado segundo a metodologia proposta por Maguire (1962). Primeira contagem de germinação (1CG): avaliada juntamente com o teste de germinação, computando-se percentagem de plântulas normais, no quinto dia após a instalação do teste (Brasil 2009).d) Emergência (EM): Utilizadas para cada amostra, quatro subamostras de 50 sementes, por repetição na profundidade de semeadura padronizada para 3 cm para todas as repetições. A porcentagem de emergência em campo foi determinada aos 9 dias após a semeadura.e) Índice de velocidade de emergência (IVE): Foi realizada junto com a emegência e contabilizou o número de sementes emergidas por dia e o cálculo segundo Maguire (1962). f) Germinação a baixa temperatura (GBT): de acordo metodologia o teste de germinação com modificação na temperatura do germinador que foi regulado para 18ºC ± 0,5ºC, na ausência de luz, com contagem única aos sete dias após a semeadura. Os resultados foram expressos em porcentagem de plântulas normais.g) Envelhecimento acelerado (EA): conduzido com quatro subamostras de 50 sementes por tratamento, estas foram distribuídas em camada única sobre tela de inox, fixadas no interior de caixas gerbox (11,0 cm x 11,0 cm x 3,0 cm), contendo 40 mL de água destilada no fundo. As caixas foram tampadas e mantidas na câmara de germinação tipo BOD por 72 horas, a temperatura de 45º C. Depois as sementes foram submetidas ao teste de germinação (Brasil, 2009).
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade, por meio do auxílio do programa estatístico AgroEstat.
Resultados e discussão
A qualidade fisiológica das sementes de algodão em termos de germinação, índice de velocidade de germinação (IVG), primeira contagem de germinação (PCG), emergência, índice de velocidade emergência (IVE), germinação a baixa temperatura (GBT) e envelhecimento acelerado (EA), com diferentes níveis de danos mecânicos está apresentada na Tabela 1.
O percentual de germinação das sementes com dano leve e sem tratamento químico (89%) foi significativamente similar ao das sementes com dano leve e submetidas ao tratamento químico (95%), indicando que o tratamento químico não afeta a germinação das sementes de algodão acometidas por danos mecânicos do tipo leve.
Sementes com dano médio apresentaram maior percentual de germinação quando receberam tratamento químico (89,5%), em comparação com sementes com dano médio e não tratadas (76%). Por sua vez, o percentual de germinação das sementes com dano alto e sem tratamento químico (68%) foi maior do que a germinação de sementes com dano alto e tratamento químico (55,5%). A germinação de sementes de algodão pode ser afetada pela temperatura, umidade, potencial genético, danos mecânicos etc. (MAYRINCK et al., 2020; REHMAN et al., 2020; SOUZA et al., 2009). Sabe-se ainda que a exposição a agentes químicos ou biológicos pode alterar o potencial de germinação das sementes e a diferentes tempos de deslintamento com ácido sulfúrico apresentaram diferenças no percentual de germinação (FERREIRA, 2020).
Os resultados da primeira contagem de germinação foi similar ao observado para a germinação, exceto para sementes com alto dano, tratadas e não tratadas com produto químico. O IVG diferiu apenas entre os diferentes níveis de dano mecânico, não havendo interação significativa entre danos versus tratamento químico e nem efeito isolado de tratamento químico. Independentemente do tratamento químico, o maior IVG foi observado para sementes com dano leve (16,59), seguido pelo dano médio (11,53) e, por fim, dano alto (7,06).
O tratamento com produto químico não afetou a emergência das plântulas de algodão e o IVE. Também não foi observado efeito significativo da interação entre tratamento químico e dano mecânico sobre o percentual de emergência e o IVE. Independentemente do tratamento químico, a emergência das plântulas de sementes com dano leve (78,25%) e médio (69,75%) foi significativamente superior à de sementes com dano alto (41,25%). Por sua vez, foi observada redução gradativa nos valores de IVE com o aumento dos níveis de dano mecânico, sendo 8,34, 6,66 e 3,67 quando os danos foram leve, médio e alto, respectivamente.
De acordo com Souza et al. (2009), a influência de danos mecânicos na qualidade das sementes do algodoeiro depende do tamanho, da profundidade e da localização do dano, como também observado nesta pesquisa. A germinação a baixa temperatura foi influenciada pelo dano mecânico e pelo tratamento com produto químico de forma isolada, não havendo interação significativa . O aumento do nível de dano, independentemente do tratamento químico, houve redução gradual do percentual de germinação a baixa temperatura, sendo 59,75%, 44,50% e 30,75% para sementes com dano leve, médio e alto respectivamente.
Sementes com maior potencial de vigor apresentam melhor desempenho do que sementes de baixo vigor quando testadas em condições desfavoráveis (UJJAINKAR; MARAWAR, 2021). O vigor das sementes pode ser definido em termos de baixo grau de deterioração da semente, fornecendo uma visão sobre o desempenho do algodão no campo ou no armazenamento (MAYRINCK et al., 2020; REHMAN et al., 2020). A ocorrência de danos mecânicos é um dos principais fatores que promovem a deterioração das sementes, reduzindo substancialmente o vigor (REHMAN et al., 2020; SOUZA et al., 2009).
Conclusões/Considerações Finais
Os níveis de dano mecânico nas sementes de algodão afetam negativamente a germinação e o vigor das sementes, bem como a qualidade das plântulas. Os danos mecânicos e o tratamento químico em sementes de algodão interferem no vigor.
Referências Bibliográficas
ABRAPA, Associação Brasileira de Produtores de Algodão. Acesso em 20 de julho de 2021. Disponível em:
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para análise de sementes. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Brasília, DF: Mapa/ACS, 2009. 395p.
CARVALHO, N.M.; NAKAGAWA, J. Vigor de sementes. In:(Eds.). Sementes: ciência, tecnologia e produção. 4 ed. Jaboticabal: FUNEP, 2000. p.224-242.
CEPEA, Centro de Estudo Avançados e Econômica Aplicada.Acesso em 20 de julho de 2021. Disponível em:
FERREIRA, M. I. E. Germinação de sementes de algodoeiro (Gossypium hirsutum) sujeitas a diferentes tempos de deslintamento. 2020. 16 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Agronomia) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2020.
FLOR et al. Avaliação de danos mecânicos em sementes de soja por meio da análise de imagens. Revista Brasileira de Sementes, Pelotas, RS, v. 26, n.1, p.68-76, 2004
MAGUIRE, J.D. Speeds of germination-aid selection and evaluation for seedling emergence and vigor. Crop Science, Madison, v.2, p. 176-177, 1962.
MAYRINCK, L. G., LIMA, J. M. E., GUIMARÃES, G. C., NUNES, C. A., & OLIVEIRA, J. A. Use of near infrared spectroscopy in cotton seeds physiological quality evaluation. Journal of Seed Science, v. 42, 2020.
REHMAN, A., KAMRAN, M. & AFZAL, I. Production and Processing of Quality Cotton Seed. Cotton Production and Uses, p. 547, 2020.
SOUZA, D. C., ALBUQUERQUE, M. C. D. F., ZORATO, M. D. F., & CARVALHO, D. D. C. Análise de danos mecânicos e qualidade de sementes de algodoeiro. Revista Brasileira de Sementes, v. 31, p. 123-131, 2009.
UJJAINKAR, V. V., & MARAWAR, M. W. Seed Vigor Testing in Cotton: A Review. International Journal of Advance Research, Ideas and Innovations in Technology, v. 7, n. 4, p. 675- 679, 2021.
Palavras Chave
Gossypium hirsutum, qualidade fisiológica, tratamento de semente
Arquivos
Área
Grupo I: Produção Agrícola (Vegetal)
Instituições
UNIFAAHF - Bahia - Brasil
Autores
JOSE RAFAEL DE SOUZA, LEANDRO FRISKE