Dados do Trabalho


Título

EFICIENCIA DE FUNGICIDAS QUANDO APLICADOS NO ESTADIO VEGETATIVO NO CONTROLE DE DOENÇAS FOLIARES NA CULTURA DA SOJA

Introdução

As doenças estão entre os fatores que limitam a produtividade da cultura da soja, com perdas anuais estimadas de 15% a 20%, podendo algumas doenças causar perdas de até 100%, dependendo das condições climáticas da safra e da região de ocorrência (TECNOLOGIAS..., 2020). Entre as doenças da soja, está incluída a mancha alvo causada pelo fungo Corynespora cassiicola que infecta mais de 400 espécies de plantas (FARR; ROSSMAN, 2019), entre elas a soja e o algodão, que são culturas de grande importância no oeste da Bahia, perfazendo 78% da área cultivada na região (AIBA, 2021).
O dano causado por esta doença é a diminuição na produtividade de grãos, pois, quando a doença ocorre nas folhas, o resultado pode ser a desfolha prematura; quando ocorre nas raízes pode ser observado o apodrecimento e, quando a infecção é nas sementes, pode ser verificado a abertura das vagens (AMTHAUER, 2015). As perdas podem alcançar até 50% (GODOY et al., 2018). Deste modo, visando reduzir e/ou evitar perdas na produtividade, várias estratégias são recomendadas para o controle desta doença, como: uso de cultivares resistentes, tratamento de sementes, rotação/sucessão de culturas com milho e espécies gramíneas e, o uso de fungicidas (GODOY et al., 2018), sendo este último, o mais utilizado pelos produtores. No entanto, existem diferenças dos fungicidas em relação a eficiência de controle da mancha alvo, o que segundo Campos et al. (2005) pode ser atribuído a diferença de isolados presentes em cada região.
Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência de diferentes fungicidas aplicados no estádio vegetativo para o controle do complexo de doenças na cultura da soja em Luís Eduardo Magalhães/BA.

Resumo

O objetivo do trabalho foi avaliar a eficiência de fungicidas aplicados no estádio vegetativo para o controle do complexo de doenças na cultura da soja em Luís Eduardo Magalhães/BA. O delineamento foi de blocos ao acaso com seis tratamentos e quatro repetições, sendo: T1) Testemunha Absoluta (sem aplicação de fungicidas); T2- Testemunha Vegetativo (sem aplicação de fungicidas no estádio vegetativo); T3) Score Flexi; T4) Nativo; T5) Orkestra SC e T6) Armero, sendo que os tratamentos de T2 a T6 receberam Elatus + Bravonil 720 em R1, Fox Xpro em R1 + 15 e Cronnos em R1 +30. Para aplicação dos tratamentos utilizou-se uma barra de CO2 e volume de calda de 150L/ha. As parcelas foram de seis linhas de sete metros e 0,50m de espaçamento entre linhas. Utilizou-se a cultivar C2827 IPRO semeada em 08/11. Foram avaliadas a severidade das doenças, AACPD, desfolha, massa de 1000 grãos e produtividade. A mancha alvo foi menor nos tratamentos que receberam fungicidas, assim como a desfolha que variou de 56% a 90%. A massa de 1000 de grãos variou de 149g a 164g, sendo maior nos tratamentos com fungicidas. Os tratamentos foram semelhantes na produtividade que variou de 4.292 kg/ha a 4.597 kg/ha. As menores severidades da mancha alvo e menor desfolha são obtidas quando a primeira aplicação é realizada em V6; maior massa de 1000 grãos é obtida com aplicação de fungicidas e, a produtividade de grãos não é influenciada pela aplicação de fungicidas quando a ocorrência da doença é tardia.

Objetivos

O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência de diferentes fungicidas aplicados no estádio vegetativo para o controle do complexo de doenças na cultura da soja em Luís Eduardo Magalhães/BA.

Material e Método

O ensaio foi conduzido durante a safra 2020/2021 em uma fazenda localizada no município de Luís Eduardo Magalhães/BA adotando-se o delineamento experimental de blocos casualizados com seis tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos foram: T1) Testemunha Absoluta, sem aplicação de fungicidas; T2) Testemunha Vegetativo, sem aplicação de fungicidas em V6; T3) Score Flexi (0,2 L/ha) aplicado em V6; T4) Nativo (0,5 L/ha) + Aureo (0,25% v/v) aplicado em V6; T5) Orkestra SC (0,3 L/ha) + Assist (0,5 L/ha) aplicado em V6 e T6) Armero (2,25L/ha) + Rumba (0,25L/ha) aplicado em V6. Os tratamentos T2 a T6 receberam aplicações de Elatus 0,2 kg/ha + Ochima (0,25 L/ha) + Bravonil 720 (1,5 L/ha) no estádio R1; Fox Xpro (0,5 L/ha) + Aureo (0,25% v/v) em R1 + 15 dias e, Cronnos (2,25 L/ha) + Rumba (0,5%v/v) em R1 + 30. Para aplicação dos tratamentos foi utilizada uma barra de CO2 composta por quatro pontas de pulverização Magnum 110015 espaçadas em 0,50m e volume de calda equivalente a 150L/ha. As parcelas foram constituídas por seis linhas de sete metros de comprimento e 0,50m de espaçamento entre linhas, sendo considerada como área útil as quatro linhas centrais com seis metros de comprimento. Estas foram demarcadas após a semeadura da cultivar de soja C2827 IPRO, realizada no dia 08/11 com semeadora-adubadora.
Foram avaliadas: a) severidade das doenças: estimada em 10 folíolos coletados na metade inferior da planta, utilizando a escala de Soares et al. (2009). Avaliação realizada em pré-spray das aplicações e aos 15 e 21 dias após a última aplicação dos tratamentos; b) área abaixo da curva de progresso da doença: de acordo com a fórmula de Campbell & Madden (1990); c) desfolha: estimada no estádio R6; d) massa de 1000 grãos: pesagem de quatro amostras de 100 sementes/parcela e correção da umidade para 13% e e) produtividade de grãos: determinada após a colheita das plantas da área útil da parcela e trilha manual, correção da umidade para 13% e transformação dos dados de kg/parcela para kg/ha.
Os dados obtidos para as variáveis estudadas na área útil de cada parcela foram submetidos à análise estatística por meio do Teste de Scott-Knott a 5% de significância, para comparação de médias.

Resultados e discussão

A doença predominante no ensaio foi a mancha alvo (Corynespora cassiicola), que foi observada no ensaio no momento da terceira aplicação dos tratamentos (0DA3), sendo seu progresso mais acentuado a partir dos 15 dias após a quarta aplicação dos fungicidas (15DA4), quando a severidade estimada na Testemunha Absoluta (T1), que não recebeu aplicação de fungicidas foi igual a 12,9% e, aos 21DA4 igual a 29,0% (Tabela 1).
Os tratamentos que receberam fungicidas (T2 a T6) foram eficientes em manter a mancha alvo com severidade inferior a não aplicação destes produtos (T1- Testemunha Absoluta), como pode ser visualizado nas avaliações de severidade realizada na quarta aplicação (0DA4) e aos 15 e 21 dias após esta aplicação (15DA4 e 21DA4) (Tabela 1). Considerando a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), que resume as severidades ao longo do tempo em um único valor, observa-se que todos os tratamentos que receberam fungicidas desde o estádio V6 (T3 a T6) tiveram valores da AACPD entre 94 e 113, sendo estes os menores valores entre todos os tratamentos, significativamente inferiores à Testemunha Vegetativo (T2= 158), que por sua vez foi estatisticamente inferior a Testemunha Absoluta (T1= 277), como apresentado na Tabela 1.
A desfolha estimada nas plantas de soja no estádio R6 variaram de 56% a 90%. A aplicação de Score Flexi (T3), Nativo (T4), Orkestra SC (T5) e Armero (T6) resultaram em menor desfolha das plantas, respectivamente igual a 60%, 54%, 56% e 56%. Quando não foi aplicado fungicida no estádio V6 (T2- Testemunha Vegetativo) a desfolha foi igual a 73% e considerada intermediária, sendo significativamente superior aos tratamentos T3, T4, T5 e T6 e, significativamente inferior a Testemunha Absoluta (T1), que não recebeu aplicação de fungicidas em nenhum momento e teve desfolha de 90% nesta data.
Em relação a massa de 1000 grãos, os tratamentos que receberam a primeira aplicação de fungicidas no estádio vegetativo (T3, T4, T5 e T6) ou no estádio reprodutivo (T2) tiveram os grãos com 159g (T3- Score Flexi), 164g (T4- Nativo), 159g (T5- Orkestra SC), 160g (T6- Armero) e 158g (T2- Testemunha Vegetativo), sendo estes significativamente superior a não aplicação de fungicidas (T1- Testemunha Absoluta= 149g).
Mesmo com as diferenças significativas registradas na severidade da mancha alvo, na desfolha das plantas e na massa de 1000 grãos, os tratamentos não influenciaram na produtividade de grãos, sendo obtido 4.292 kg/ha no T1, 4.335 kg/ha no T2, 4.337 kg/ha no T3, 4.597 kg/ha no T4, 4.388 kg/ha no T5 e 4.432 kg/ha no T6. Mesmo com a igualdade na produtividade observou-se que houve aumento neste parâmetro quando se comparou os tratamentos com a Testemunha Absoluta (T1, sem aplicação de fungicidas) e, esse aumento relativo na produtividade foi de 1,0% para a Testemunha Vegetativo (T2), 1,1% para o Score Flexi (T3), 7,1% para o Nativo (T4), 2,2% para o Orkestra SC (T5) e 3,3% para o Armero (T6). Um dos fatores para a igualdade na produtividade de grãos nos diferentes tratamentos pode ter sido ocasionado pelo aparecimento e evolução tardia da mancha alvo no ensaio, quando os grãos já estavam formados (após o estádio R6).

Conclusões/Considerações Finais

Com base nos resultados obtidos pode-se concluir que: a) os fungicidas são importantes para a manutenção da mancha alvo em baixa severidades. As menores severidades são obtidas quando a primeira aplicação é realizada no estádio vegetativo (V6) quando comparada a primeira aplicação no estádio reprodutivo (R1); b) menor desfolha das plantas de soja são obtidas quando a primeira aplicação dos fungicidas é realizada no estádio vegetativo (V6); c) maior massa de 1000 grãos é obtida com aplicação de fungicidas, independente da primeira aplicação ter sido realizada no estádio vegetativo (V6) ou no reprodutivo (R1) e d) a produtividade de grãos não é influenciada pela aplicação de fungicidas quando a ocorrência da doença é tardia.

Referências Bibliográficas

AIBA - ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTORES E IRRIGANTES DA BAHIA. Levantamento de safra: 1º Levantamento para a safra 2020/21. Disponível em: <https://aiba.org.br/levantamento-de-safra/>. Acesso em: 27 abr. 2021.

AMTHAUER, J. A. de S. Controle químico de Corynespora cassiicola em cultivares de soja no município de Rio Verde – Goiás. 2015. 54f. Dissertação (Mestrado em Produção Vegetal) - Universidade de Rio Verde, Campus Rio Verde, Goiás, 2015.

CAMPOS, H. D.; SILVA, L. H. C.; SILVA, J. R. C. Guia de identificação de doenças da soja. Rio Verde: FESURV, 2005. 62p.

CAMPBELL, C. D.; MADDEN, L. V. Introduction to plant disease epidemiology. New York: J. Willey, 1990. 532p.

FARR, D. F.; ROSSMAN, A. Y. Fungal databases. IN: U.S. National Fungus Collections., USDA, ARS, 2019. Disponível em: <https://nt.ars-grin.gov/fungaldatabases/>. Acesso em: 9 jun. 2019.

GODOY, C. V. et al. Eficiência de fungicidas para o controle da mancha alvo, Corynespora cassiicola, na cultura da soja, na safra 2017/18: resultados sumarizados dos ensaios cooperativos. Londrina: Embrapa Soja, 2018. 6p.

SOARES, R. M.; GODOY, C. V.; OLIVEIRA, M. C. N. de. Escala diagramática para avaliação da severidade da mancha alvo da soja. Tropical Plant Pathology, v.34, n.5, p.333-338, 2009.

TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO DE SOJA. Londrina: Embrapa Soja, 2020. 347p. (Sistemas de Produção / Embrapa Soja, ISSN 2176-2902, n.17).

Palavras Chave

Glycine max, fitossanidade, Mancha alvo, manejo

Arquivos

Área

Grupo I: Produção Agrícola (Vegetal)

Instituições

Círculo Verde Assessoria Agronômica & Pesquisa - Bahia - Brasil, Universidade do Estado da Bahia - Bahia - Brasil

Autores

GILVAN RODRIGUES DA SILVA, ÂNGELA BERNARDINO BARBOSA, AUGUSTO JORGE CARDOZO CAETANO, MÔNICA CAGNIN MARTINS, MARCO ANTONIO TAMAI