Dados do Trabalho
Título
EFICIENCIA NO USO DA TERRA EM AREAS DE CONSORCIOS AGROECOLOGICOS NO ALTO SERTAO DE ALAGOAS
Introdução
O semiárido brasileiro é caracterizado por elevadas temperaturas e chuvas escassas, que se concentram em 4 a 5 meses do ano. Segundo Santiago et al. (2013), a compreensão da variabilidade das chuvas no semiárido é fundamental para conduzir o planejamento de consórcios agroecológicos com algodão e culturas alimentares. É neste cenário que o Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos, coordenado pela Diaconia, com apoio financeiro da Laudes Foundation, o Fundo Internacional para Desenvolvimento da Agricultura (FIDA)/AKSAAM/UFV/IPPDS e a Inter American Foundation (IAF), em parceria com a ONG Instituto Palmas e Flor de Caraibeira (Organismo de Avaliação da Conformidade Orgânica – OPAC), assessora famílias agricultoras no plantio consorciado de algodão com culturas alimentares e forrageiras no controle da qualidade orgânica nas unidades familiares produtivas.
O policultivo é uma das estratégias de convivência com o semiárido, pois as plantas apresentam sistemas de raizes, necessidades hídricas e ciclos produtivos diferentes. Assim sendo, quanto maior a diversidade de plantas maior será a estabilidade da produção e menor o risco de perda de safra.
De acordo com Altieri (1987), Harwood (1979) e Richards (1985) as interações entre as plantas cultivadas, animais e árvores resultam em sinergismos benéficos, que promovem a própria fertilidade do solo e a produtividade.
O índice de uso eficiente da terra (UET) indica a eficiência da utilização de consórcios por fazer uso dos recursos do ambiente, comparado com áreas de sistemas de monocultivos (Mead, Willey, 1980). Quando o UET é maior que 1, o consórcio favorece o crescimento e a produção das culturas componentes. Em contrapartida, quando o UET é menor que 1, o consórcio afeta negativamente o crescimento e a produção das culturas cultivadas na associação (CABALLERO et al., 1995). Com isso, nos casos em que o UET é maior que 1, é possível inferir que o princício da facilitação produtiva é favorável.
O objetivo do estudo foi comparar o uso eficiente da terra em consórcios agroecológicos com monocultivos.
Resumo
O semiárido brasileiro é caracterizado por elevadas temperaturas e chuvas escassas, que se concentram em 4 a 5 meses do ano. A compreensão da variabilidade das chuvas no semiárido é fundamental para conduzir o planejamento de consórcios agroecológicos com algodão e culturas alimentares. O policultivo é uma das estratégias de convivência com o semiárido. É neste cenário que o Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos, coordenado pela Diaconia, com apoio financeiro da Laudes Foundation, o Fundo Internacional para Desenvolvimento da Agricultura (FIDA)/AKSAAM/UFV/IPPDS e a Inter American Foundation (IAF), em parceria com a ONG Instituto Palmas e Flor de Caraibeira (Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade Orgânica – OPAC), assessora famílias agricultoras do Semiárido brasileiro. O objetivo do estudo foi avaliar o uso eficiente da terra (UET) de 5 famílias com consórcios agroecológicos em municípios do Alto Sertão de Alagoas, safra de 2020, comparados aos sistemas de monocultivos. Para isto, foi calculado o índice UET a partir do método proposto por Willey e Trenbath e dados oficiais de culturas em monocultivo. O UET é um índice que permite comparar áreas de terras necessárias com culturas em monocultivos com rendimentos equivalentes às culturas consorciadas. Os resultados indicam que os valores de UET para os consórcios 1, 2, 3, 4 e 5 foram 1,06, 1,10, 1,62, 1,79, 1,45, respectivamente, os quais indicam que seriam necessários 6%, 10%, 62%, 79% e 45% de áreas a mais para monocultivo. É possível observar que os consórcios agroecológicos apresentam maior eficiência na utilização da terra quando comparados às monoculturas.
Objetivos
O objetivo do estudo foi comparar o uso eficiente da terra em consórcios agroecológicos com monocultivos.
Material e Método
O estudo ocorreu em municípios do Alto Sertão de Alagoas, com 5 (cinco) famílias agricultoras: consórcio 1/comunidade Lagoa dos Patos – Delmiro Gouveia/AL, consórcio 2/comunidade indígena Jeripankó Ouricuri – Pariconha/AL, consórcio 3/comunidade Jeripankó Figueiredo – Pariconha/AL, consórcio 4/comunidade indígena Jeripankó Ouricuri – Pariconha/AL, consórcio 5/comunidade Moxotó – Pariconha/AL. Os consórcios agroecológicos foram compostos por algodão (Gossypium hirsutum L.), feijão de corda (Vigna unguiculata), gergelim (Sesamum indicum L.) e milho (Zea mays), onde foi possível realizar práticas de base agroecológica, preparo do solo com micro-trator, marcação de curva de nível, culturas com faixas alternadas, rotação de cultura, vazio sanitário, adubação orgânica e biofertilizante.
Os dados obtidos de produção das famílias agricultoras correspondem à safra de 2020 e anotados em cadernos de campo. A produtividade dos consórcios foi calculada levando em consideração todos os produtos da área. Os rendimentos das culturas em monocultivos foram os registrados a partir do Levantamento de Produção Agrícola Municipal, disponibilizados pelo IBGE (Milho – 2003-2018; Feijão de corda – 2003-2018; Algodão – 2015 e pela EMBRAPA ALGODÃO (Gergelim – 2009).
Com isso, o UET foi determinado, segundo Willey (1979) e Trenbath (1979), através da expressão matemática abaixo:
UET=∑_(i-l)^m▒yi/yii
Onde:
UET = uso eficiente da terra;
Yi = rendimento da cultura em consórcio, Kg/ha;
Yii = rendimento da cultura solteira, Kg/ha.
Resultados e discussão
Conforme a tabela 1 observa-se que o desempenho produtivo dos consórcios agroecológicos foi maior em relação aos sistemas de monocultivos. Isso é comprovado pelos valores de UET dos consórcios agroecológicos, que obtiveram 1,06, 1,10, 1,62, 1,79 e 1,45, os quais correspondem às famílias 1, 2, 3, 4 e 5, respectivamente. Com isso, para ter o mesmo rendimento nos sistemas de monocultivos seriam necessários 6%, 10%, 62%, 79% e 45% a mais de terras, respectivamente.
Um estudo realizado por Rós e São João (2015) sobre o desempenho agronômico e uso eficiente da terra em arranjos de plantas, realizado em Presidente Prudente/SP, encontrou valores de UET entre 1,05 e 1,15. Dessa forma, é possível comprovar a existência do princípio da facilitação produtiva, uma vez que o valor de UET foi maior que 1,0.
Conclusões/Considerações Finais
É possível verificar que os consórcios agroecológicos apresentam maior desempenho quando comparados às áreas de monocultivos.
Referências Bibliográficas
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CABALLERO, R.; GOICOECHEA, E. L. & HERMAIZ, P. J. Forage yields and quality of common vetch and oat sown at varying seeding ratios and seeding rates of common vetch. Crops Research Vol. 41, p.135-140, 1995.
HARWOOD, R. R. Small farm development – understanding and improving farming systems in the humid tropics. Boulder: Westview Press, 1979.
MEAD, R & WILLEY, R. W. The concept of a land equivalent ratio and advantages in yields for
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RICHARDS, P. Indigenous agricultural revolution: ecology and food production in West Africa. Boulder: Westview Press, 1985.
RÓS, Amarílis Beraldo; SÃO JOÃO, Renata Espolador. Desempenho agronômico e uso eficiente da terra em arranjos de plantas de mandioca e batata-doce, Revista Ceres, v. 63, n. 4, p. 517-522, 29 dez. 2015. DOI 10.1590/0034-737X201663040012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rceres/a/pG7CKqzckmrdkvRd8FMnNkd/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 18 ago. 2021.
SANTIAGO, Fábio dos Santos et al. Variabilidade pluviométrica em agricultura de sequeiro no sertão do Pajeú-Pernambuco. In: 7° Encontro Internacional Das Águas, 05., 2013. Anais. Universidade Católica do Recife: UNICAP, 2013, p. 1 - 8.
TREBATH, B. R. Plant interactions in mixed crop communities. In: American Society of Agronomy. Multiple cropping. Madison, 1979 p. 126- 169.
WILLEY, R. W. Intercropping – its importance and research needs. Part 1. Competition and yield advantagens. Field Crop Abstracts, v. 32, n. 1, p. 1-10, 1979.
Palavras Chave
agroecologia, famílias agricultoras, policultivo, semiárido.
Arquivos
Área
Grupo VI: Meio ambiente e Recursos Hídricos
Autores
VICTORIA REGINA DE SOUZA MOURA, FÁBIO DOS SANTOS SANTIAGO, RICARDO MENEZES BLACKBURN, JULIANA MELO DA SILVA, CAROLINA DA SILVA MOREIRA