Dados do Trabalho
Título
VALOR NUTRICIONAL DE SILAGEM DE SOJA PLANTA: TEMPO DE ARMAZENAMENTO, INOCULANTE MICROBIANO E ACIDOS ORGANICOS
Introdução
Sistemas de produção animal, requer bom manejo nutricional do rebanho para obter sucesso, pois esse, representa um dos maiores custos de um sistema, e otimizar os recursos disponíveis é uma alternativa (MEDEIROS et al., 2015).
Alimentos leguminosas são de alto valor nutricional, devido a sua composição físico-químico, como alto teor proteico, o que pode diminuir a suplementação proteica na dieta de ruminantes (SANTANA et al., 2019). Desta forma, o uso da silagem de soja é uma alternativa para complementar o volumoso da dieta. Porém, historicamente a soja planta inteira era considerada uma cultura de difícil ensilagem, por apresentarem baixo teor de matéria seca e carboidratos solúveis, aumentando as perdas durante a fermentação (GOBETTI et al., 2011).
Trabalhos mostram que a soja pode ser ensilado de forma exclusiva, com uso de aditivos, principalmente bactérias do ácido lático (BAL) melhorando o perfil fermentativo, e diminuindo as perdas durante o processo de fermentação aumentando a digestibilidade in vitro e diminuindo a contagem de fungos e mofos (GANDRA et al., 2018). Portanto, o objetivo do trabalho foi avaliar a ação de inoculante bacteriano, ácido propiônico e ácido fórmico na ensilagem de planta de soja com diferentes tempos de abertura sobre o valor nutricional.
Resumo
O objetivo deste estudo foi avaliar adição de inoculante bacteriano e ácidos orgânicos e do tempo de abertura sobre o valor nutricional de silagem de soja planta inteira. A soja da cultivar GMX CANCHEIRO RR foi colhida no estágio R7. Os tratamentos foram: 1- CON (sem aditivos), 2 - INO (4g / ton Lactobacillus plantarum: 4x1010 cfu / g + Propionibacterium acidipropionici: 2,6x1010 cfu / g), 3- AcF (inclusão de 2ml / kg de mistura de ácido orgânico 35- 45% de ácido fórmico; 15-45% de ácido propiônico; 15-20% de formato de sódio); 4 - AcP (inclusão de mistura de ácido orgânico 2ml / kg de matéria natural 50-60% de ácido propiônico; 15-20% de ácido fórmico; 1-5% de propionato de sódio, 5% 1- propionato de glicerol; 15-25% de glicerol). Os silos foram abertos nos dias 30, 60, 90, 120, 150 e 180 de armazenamento. Os dados foram submetidos a análise de variância utilizando o PROC MIXED (versão 9.3, SAS Institute, Cary, NC). A adição de ácidos orgânicos aumentou os teores de matéria seca, matéria orgânica, proteína bruta, nutrientes digestíveis totais em relação ao controle e as acrescidas com inoculante microbiano. A adição de ácidos orgânicos reduziu o tempo de abertura e melhorou o valor nutricional da silagem de soja de planta inteira.
Objetivos
O objetivo do trabalho foi avaliar a ação de inoculante bacteriano, ácido propiônico e ácido fórmico na ensilagem de planta de soja com diferentes tempos de abertura sobre o valor nutricional.
Material e Método
Este experimento foi realizado na Universidade Federal da Grande Dourado UFGD, foram utilizados 120 silos experimentais compostos por baldes de polietileno de 40 cm de altura e 30 cm de diâmetro. Foi utilizado um delineamento inteiramente casualizado com medidas repetidas no tempo, onde os tratamentos foram: 1- CON (sem adição de aditivos), 2- INO (Aplicação de inoculante bacteriano: 4g / ton com mistura de 4x1010 cfu / g de Lactobacillus plantarum e 2,6x1010 cfu / g de Propionibacterium acidipropionici), 3 – AcF (adição de produto à base de ácido fórmico: mistura de 2 ml / kg de ácido orgânico de 35-45% de ácido fórmico, 15-45% de ácido propiônico e 15-20% de formato de sódio). 4 - AcP (adição de produto à base de ácido propiônico: mistura de 2 ml / kg de ácido propiônico 50-60%, ácido fórmico 15-20% e propionato de sódio 1-5%, 1- propionato de glicerol 5% e 15-25% glicerol). A cultivar de soja (Glycine max L.) utilizada foi GMX CANCHEIRO RR, colhida no estágio vegetativo R7 nas condições de cultivo do sul de Mato Grosso do Sul. Os silos experimentais foram abertos a cada 30 dias, compondo 6 tempos de abertura e 180 dias de armazenamento total.
Os silos experimentais foram munidos com tampas com válvulas de Bunsen para permitir o escape dos gases. No fundo dos silos, foi colocado areia seca (2kg) separada da forragem por uma tela e um tecido de náilon para quantificação do efluente produzido.
A compactação do material picado foi realizada com os pés objetivando atingir densidade de 500 kg/m3 de forragem o volume de cada silo experimental. Após a compactação da forragem, os silos foram vedados com fita adesiva, pesados e armazenados.
Os silos foram abertos aos 30, 60, 90, 120, 150 e 180 dias de fermentação e foi coletado 500 g de amostras de cada silo para posteriores analises bromatológicas. As amostras foram secas em estufa ventilada a 65oC por 72 horas e moídas a 2mm para posterior análises bromatológicas. Foram realizadas análises de matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo e cinzas de acordo com a (AOAC, 2000), fibra em detergente neutra, acida e lignina de acordo com (VAN SOEST, et al 1991) e calculados os valor de nutrientes digestíveis totais e energia liquida de acordo com o (NRC, 2001). Os dados foram submetidos a análise de variância e analisados por split-splot utilizando o PROC MIXED (versão 9.3, SAS Institute, Cary, NC).
Resultados e discussão
Com exceção ao teor de Extrato etéreo (P=0,114), houve efeito de tratamento nas outras frações do valor nutricional avaliadas (P<0,05). Também houve efeito do tempo de armazenamento (P<0,05), com exceção no teor de matéria orgânica e cinzas (p=0,081). As interações (tratamento*tempo), foram observadas nas frações avaliadas (P<0,05), exceto ao teor de carboidrato não fibrosos (P>0,05) (Tabela 1).
Tabela 1. Valor nutricional da silagem de soja de acordo com os tratamentos experimentais
Item Tratamentos experimentais1 EPM2 Valor de P3
CON INO AcF AcP Trat Tempo Int C1 C2 C3
g/kg
Matéria seca 331,77 322,61 361,72 354,92 1,929 <,0001<,0001 0,017<,0001 <,0001 0,214
Matéria
orgânica 919,87 918,85 928,70 929,36 0,606 <,0001 0,081 0,004 <,0001 <,0001 0,518
Proteína
bruta 174,25 175,51 192,61 194,74 1,788 <,0001 <,0001 0,028 <,0001 <,0001 0,566
NIDN 41,97 43,10 43,92 44,58 0,329 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 0,016 0,225
NIDA 30,33 29,78 32,02 33,59 0,574 0,009 <,0001 <,0001 0,075 0,007 0,122
Extrato
etéreo 83,62 81,85 81,31 84,60 0,835 0,114 <,0001 <,0001 0,405 0,402 0,132
FDN 434,58 408,58 374,85 409,63 3,535 <,0001 0,006 <,0001 <,0001 0,019 <,0001
FDA 277,99 276,95 293,88 281,95 2,732 0,003 <,0001 0,001 0,067 0,002 0,004
Lignina 81,49 80,41 86,70 82,58 0,881 0,008 <,0001 0,008 0,179 0,003 0,010
CNF 227,41 252,91 279,92 240,40 4,059 <,0001 <,0001 0,595 <,0001 0,319 <,0001
Cinzas 80,13 81,15 71,30 70,63 0,606 <,0001 0,081 0,004 <,0001 <,0001 0,518
NDT 653,30 656,59 671,24 667,22 1,290 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 0,085
ELL
(Mcal/kg) 1,58 1,59 1,63 1,62 0,003 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 <,0001 0,095
1CON (sem adição de aditivos), INO (Aplicação de inoculante bacteriano: 4g / ton com mistura de 4x1010 cfu / g de Lactobacillus plantarum e 2,6x1010 cfu / g de Propionibacterium acidipropionici), AcF (adição de produto à base de ácido fórmico: mistura de 2 ml / kg de ácido orgânico de 35-45% de ácido fórmico, 15-45% de ácido propiônico e 15-20% de formato de sódio), AcP (adição de produto à base de ácido propiônico: mistura de 2 ml / kg de ácido propiônico 50-60%, ácido fórmico 15-20% e propionato de sódio 1-5%, 1- propionato de glicerol 5% e 15-25% glicerol). 2EPM (erro padrão da média),3Trat (efeito de tratamento), Int (efeito de interação tempo*tratamento) C1(CON vs aditivos), C2(INO vs blend ácidos orgânico), C3 (AcF vs AcP).
As silagens com aditivos (C1=controle vs aditivos) tiveram valores superiores de proteína bruta e carboidrato não fibrosos e menores teores de fibra em detergente neutro (P<0,0001), onde a inclusão de aditivos aumentaram os teores de nutrientes digestíveis totais e energia liquida (P<0,0001). A adição de ácidos orgânicos em relação ao inoculante na silagem de soja, apresentaram valores superiores no teor de matéria seca, matéria organica, proteina bruta, nutrientes digestíveis totais e energia liquida (P<0,05), menor teor de cinzas (P=0,0001), e sem diferença significativa no teor de carboidrato não fibrosos (P=0,319).
Ao comparar as adições dos ácidos orgânicos (AcF vs AcP), o tratamento AcF reduziu o teor de fibra em detergente neutro da forragem e aumentou o teor de carboidrato não fibrosos (P=0,0001). O tratamento AcP reduziu a fração de fibra em detergente ácida (P=0,004) e lignina (p=0,010), em relação ao tratamento AcF.
Conclusões/Considerações Finais
A adição de ácidos orgânicos (a base de ácido fórmico e ácido propiônico) tem maior potencial na ensilagem de soja planta, diminuindo as perdas e melhorando a fermentação e a qualidade nutricional da silagem. Silagem com maior qualidade foi obtido nos primeiros meses, em que a silagem pode ser armazenada até os 90 dias para não ocorrer maiores perdas.
Referências Bibliográficas
AOAC International. Official methods of analysis of AOAC International. Gaithersburg, Md.: AOAC International, 2000.
GANDRA, J. R. et al. Soybean whole-plant ensiled with chitosan and lactic acid bacteria: Microorganism counts, fermentative profile, and total losses. Journal of Dairy Science, v. 101, n. 9, p. 7871–7880, 2018.
GOBETTI, S. T. C. et al. Produção e utilização da silagem de planta inteira de soja (Glicine max) para ruminantes. Revista Ambiência, v. 7, n. 3, p. 603–616, 2011
MEDEIROS, S. R. de; COSTA, G. R. da; BUNGENSTAB, D. J. Nutrição de bovinos de corte Fundamentos e aplicações. Brasília: EMBRAPA, 2015. 176p.
NRC. COUNCIL, N. R. Nutrient Requirements of Dairy Cattle: Seventh Revised Edition, 2001. Washington, DC: The National Academies Press, 2001.
SANTANA, J. et al. Características fermentativas, composição química e fracionamento da proteína da silagem de gliricídia submetida a diferentes períodos de fermentação. Boletim de Indústria Animal, v. 76, n. 0 SE-FORRAGICULTURA E PASTAGENS, 4 abr. 2019.
VAN SOEST, P. J.; ROBERTSON, J. B.; LEWIS, B. A. Methods for dietary fiber, neutral detergent fiber, and nonstarch polysaccharides in relation to animal nutrition. Journal of Dairy Science, v. 74, n. 10, p. 3583-3597, Oct 1991
Palavras Chave
aditivos, Glycine max L, silagem de leguminosa
Arquivos
Área
Grupo III: Produção animal
Instituições
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará - Pará - Brasil
Autores
FRANCELY TORRES GOMES, THIAGO NUNES COUTINHO, MAIKON ALEXANDRE TAVARES ARAÚJO, ALAN VITOR BORGES PAIXÃO, JEFFERSON RODRIGUES GANDRA