Dados do Trabalho


Título

ALTERAÇOES FISIOLOGICAS INDUZIDAS EM GOIABEIRAS INOCULADAS COM MELOIDOGYNE ENTEROLOBII E TRATADAS COM BACILLUS METILLOTROPICHUS

Introdução

Desde 2001, uma espécie de nematoide das galhas, identificado como M. enterolobii tornou-se o principal problema da goiabeira e desde então encontra-se disseminado por quase todas as áreas produtivas do Brasil, causando perdas acentuadas, inviabilizando a produção e em muitos casos o produtor é obrigado a abandonar e erradicar o pomar porque uma vez identificado na área o controle não é eficiente (Carneiro et al., 2001; Meena et al., 2016).
O principal sintoma é a formação de galhas nas raizes, formada pela hiperplasia de células parenquimáticas do córtex e do cilindro vascular, que leva ao desenvolvimento de uma protuberância e externamente são observadas raizes com aumento de diâmetro. As galhas interferem nas trocas gasosas das plantas pela deficiência na assimilação de água, nutrientes e hormônios pelas raizes, assim como na inviabilização desses compostos para a parte aérea. O conteúdo transportado pelo xilema é reduzido em raizes com intensa formação de galhas por causa da ruptura das células que compõe os vasos condutores. Esses processos são regidos por uma cascata de sinalização que também são alterados devido ao parasitismo (Domiciano et al., 2009; Strajnar et al., 2012; Collett et al., 2021).
Pesquisas com o controle alternativo de nematoides, principalmente com produtos a base de microrganismos com capacidade nematicida vem crescendo no mundo. A principal importância das rizobactérias no controle de doenças é devido a capacidade de despertar na planta mecanismos de defesa seja pela produção e liberação de enzimas antioxidantes, toxinas, antibióticos e fitohormônios que agem contra fitopatógenos (Dong et al., 2016; Machado et al., 2012; Bernardes, et al. 2010). Pesquisas que buscam entender a capacidade do nematoide de interferir nas trocas gasosas de frutíferas, quando tratadas com nematicida microbiológico são ausentes. Essa pesquisa objetivou-se estudar alterações nas trocas gasosas induzidas por M. enterolobii em mudas de goiabeiras, Pedro Sato, tratadas com nematicida microbiólogico a base de Bacillus methylotrophicus.

Resumo

Desde 2001, a produtividade dos pomares de goiabeira é prejudicada pelo parasitismo de Meloidogyne enterolobii, o qual é o principal fator limitante da cultura. As galhas induzidas nas raizes pelo parasitismo influenciam na absorção de água e nutrientes e na translocação para a parte aérea e os sítios de alimentação formados pela deposição das fêmeas obesas próximas ao cilindro vascular inviabilizam o funcionamento do xilema e do floema e alterações a níveis de trocas gasosas na planta são observados. A pesquisa teve como objetivo estudar as trocas gasosas em goiabeira, variedade Pedro Sato, induzidas por M. enterolobii e tratadas com produto a base de B. methylotrophicus. As respostas de trocas gasosas em goiabeiras inoculadas com 5.000 ovos e tratadas com nematicida microbiólogico foram quantificados quinzenalmente até aos 90 dias após o transplantio, em relação ao comportamento das variáveis: a) evapotranspiração; b) fotossíntese líquida e c) condutância estomática. M. enterolobii reduziu os parâmetros de trocas gasosas avaliados e a rizobactéria em associação com o nematoide neutralizou os efeitos negativos do nematoide nas trocas gasosas.

Objetivos

Estudar alterações nas trocas gasosas induzidas por M. enterolobii em mudas de goiabeiras, Pedro Sato, tratadas com nematicida microbiólogico a base de Bacillus methylotrophicus.

Material e Método

Os experimentos foram instalados em casa de vegetação no Instituto Federal Goiano Campus Morrinhos-GO e conduzido durante os meses de janeiro a agosto de 2021. Foi avaliada a cultivar Pedro Sato em esquema fatorial 2x2 (inoculada e não inoculada com M. enterolobii; tratada e não tratada com Bacillus methylotrophicus). Os tratamentos foram distribuídos ao acaso, com cinco repetições sendo a unidade experimental representada por uma planta por vaso, com duas repetições. As mudas de goiaba foram obtidas de viveiro credenciado junto ao MAPA e foram transplantadas para sacos de polietileno com solo autoclavado na proporção 2:1 (areia:terra).
Uma semana após o transplantio foi realizada a primeira aplicação com produto a base de B. methylotrophicus. Foram feitas quatro aplicações na dosagem de 3mL/L de água com auxílio de um regador. As aplicações subsequentes foram realizadas em intervalos de 15 dias. Entre a segunda e a terceira aplicação foi realizada a inoculação com 5.000 ovos e eventuais J2 de M. enterolobii com intervalo de uma semana após e antes as aplicações.
Dois dias ápos a última aplicação foram realizadas avaliações quinzenais com analisador de gás infravermelho dos parâmetros: A = fotossíntese líquida (µmol m⁻² s⁻¹); E = evapotranspiração (mmol m⁻² s⁻¹) e gsw = condutância estomática (mol m⁻² s⁻¹), em uma folha totalmente expandida localizada no terço superior da planta posicionadas entre o 3° e o 5° par de folhas a partir do ápice. Todas as avaliações foram realizadas entre as 7h30 e 10h30 da manhã até aos 90 dias após o transplantio (DAT). Os dados foram tratados como experimento fatorial, submetidos ao teste ANOVA e analisados no programa SAS.

Resultados e discussão

B. methylotrophicus isolado e em associação com M. enterolobii influenciaram na evapotranspiração das goiabeiras aos 45 e 60 DAT. Aos 75 DAT a interação entre B. methylotrophicus e M. enterolobii foi responsável pela alteração da evapotranspiração. Em tomate e tabaco inoculados com M. incognita e M. hapla a evapotranspiração foi maior que em plantas não inoculadas, entretanto M. javanica não interferiu na evapotranspiração em plantas de tomate (Elkins et al., 1979). M. enterolobii isolado foi responsável pela diferença entre os tratamentos na taxa fotossintética observada aos 45 DAT. Aos 60 e 90 DAT, a interação de B. methylotrophicus e M. enterolobii causaram diferença entre os tratamentos. Atia et al. (2020), encontraram em pepino inoculado com M. incognita redução na fotossíntese, porém houve aumento na evapotranspiração. Segundo Barón et al. (2012) as reduções na taxa fotossintética durante o parasitismo são ocasionados pela deficiência de absorção e translocação de nutrientes para a parte aérea. A escassez de água na planta e a deficiência de nutrientes alteram o processo fotossintético pela redução dos pigmentos fotossintetizantes e desencadeiam prejuízos ao funcionamento eficiente do Fotossistema II.
A aplicação de B. methylotrophicus isolado e em interação com M. enterolobii foram responsáveis pela alteração na condutância estomática aos 45, 60 e 75 DAT. O nematoide reduziu a condutância estomática e em interação com a rizobactéria houve o aumento da condutância estomática. Resultados semelhantes foram encontrado por Maqsood et al. (2020) no patossistema tomateiro - M. incognita. Em porta-enxerto de pimentão, M. incognita reduziu a absorção de água que refletiu na redução da condutância estomática e na redução da fotossíntese (Gálvez et al., 2019). As galhas dificultam a absorção de água pelas raizes e diminui o potencial hídrico, uma vez que a translocação para a parte áerea é afetada. Á medida que o potencial de água nas folhas diminui os estomâtos ficam mais sensíveis e ocorre a redução na condutância estomática pelo fechamento dos estomâtos. Deficiência de assimilação de hormônios por plantas infestadas por nematoides também interferem nos processos de abertura e fechamento estomático (Gomes et al., 2004; Mioranza et al., 2018).
M. enterolobii reduziu as taxas de evapotranspiração, fotossíntese e condutância estomática nas goiabeiras devido uma suposta condição de deficiência hídrica ocasionada pelas galhas nas raizes, que induziu ao fechamento estomático e consequentemente a diminuição evapotranspiração e da fotossíntese. Resultados semelhantes foram encontrados por Goulart et al. (2019) em mudas de café inoculadas com M. paranaensis e M. exigua onde observou-se redução da condutância estomática e da evapotranspiração. Porém, somente M. paranaensis reduziu a fotossíntese. Esses resultados contestam o que foi verificado em plantas suscetíveis a nematoide, em que ocorre o incremento na taxa fotossintética devido ao aumento na demanda de fotoassimilados para suprir as fêmeas durante o parasitismo através das células gigantes (Strajnar et al., 2012). Em todos os casos B. methylotrophicus em associação com o nematoide foi capaz de neutralizar os efeitos nocivos do nematoide a frutífera.

Conclusões/Considerações Finais

M. enterolobii reduziu a evapotranspiração, a fotossíntese e a condutância estomática em mudas de goiabeira, Pedro Sato. B. methylotrophicus em associação com M. enterolobii neutralizou os efeitos novicos do nematoide nas trocas gasosas da frutífera.

Referências Bibliográficas

ATIA, M. et al. Piriformospora indica promotes cucumber tolerance against Root-knot nematode by modulating photosynthesis and innate responsive genes. Saudi Journal of Biological Sciences, v. 27, n. 1, 2020.
BARÓN, M. et al. Photosynthetic responses to biotic stress. Terrestrial Photosynthesis in a Changing Environment: A Molecular, Physiological and Ecological Approach. 2012.
BERNARDES, F.S. et al. Indução de resistência sistêmica por rizobactérias em cultivos hidropônicos. Summa Phytopathol., Botucatu, v. 36, n. 2, 2010.
CARNEIRO, R.M.D.G. et al. Primeiro Registro de Meloidogyne mayaguensis em Goiabeira no Brasil. Nematologia Brasileira, v. 25, 2001.
COLLETT, R.L. Meloidogyne enterolobii, a threat to crop production with particular reference to sub-Saharan Africa: an extensive, critical and updated review. Nematology, 2021.
DOS GOULART, R.R. et al. Meloidogyne paranaensis and M. exigua alter coffee physiology. Nematology, v. 21, 2019.
DOMICIANO, G.P. et al. Alterações na fotossíntese de plantas infectadas por patógenos. Revis. Anu. Patol. Plantas, 2009.
DONG, L., ZHANG, K. Microbial control of plant-parasitic nematodes: A five-party interaction. Plant and Soil, v. 288, n. 1-2, 2016.
ELKINS, C. et al. Plant-Parasitic Nematode Effects on Water Use and Nutrient Uptake of a Small- and a Large-rooted Tall Fescue Genotype. Agronomy Journal, v. 71, n. 3, 1979.
GÁLVEZ, A. et al. New traits to identify physiological responses induced by different rootstocks after root-knot nematode inoculation (Meloidogyne incognita) in sweet pepper. Crop protection, v. 119, p. 126-133, 2019.
GOMES, M. et al. Interactions between leaf water potential, stomatal conductance and abscisic acid content of orange trees submitted to drought stress. Brazilian Journal of Plant Physiology, v. 16, n. 3, 2004.
MACHADO, V. et al. Bactérias como agentes de controle biológico de fitonematóides. Oecologia Australis, v. 16, 2012.
MAQSOOD, A. et al. Variations in Growth, Physiology, and Antioxidative Defense Responses of Two Tomato (Solanum lycopersicum L.) Cultivars after Co-Infection of Fusarium oxysporum and Meloidogyne incognita. Agronomy, v. 10, n. 159, 2020.
MEENA, K.S. et al. Interaction of Meloidogyne incognita and Fusarium oxysporum in carnation and physiological changes induced in plants due to the interaction, SAARC J. Agri., v. 14, n. 1, 2016.
MIORANZA, T. et al. Gas exchange and photosynthetic light response curves in nematode-infected tomato plants treated with Thuya occidentalis. AJCS, v. 12, n. 4, 2018.
STRAJNAR, P. et al. Effect of Meloidogyne ethiopica parasitism on water management and physiological stress in tomato. European Journal of Plant Pathology, v. 132, 2012.

Palavras Chave

fisiologia, Meloidogyne enterolobii, nematoide das galhas, Psidium guajava

Arquivos

Área

Grupo I: Produção Agrícola (Vegetal)

Instituições

Instituto Federal Goiano - Goiás - Brasil, Universidade de Brasília - Distrito Federal - Brasil

Autores

KAROLINY DE ALMEIDA SOUZA, FELIPE OLIVEIRA BONIFÁCIO, JOÃO PEDRO ELIAS GONDIM, CLARICE APARECIDA MEGGUER, NADSON DE CARVALHO PONTES, CLEBER FURLANETTO