Dados do Trabalho


Título

INCIDENCIA DO BICHO-MINEIRO (LEUCOPTERA COFFEELLA) NO CAFEEIRO EM FUNÇAO DE VARIAVEIS CLIMATICAS NO SUL DE MINAS GERAIS

Introdução

No estado de Minas Gerais a cafeicultura ocupa um lugar de destaque em razão da geração de empregos proporcionados pelo setor, considerada como uma das principais atividades agrícolas na região Sul de Minas. A produção dessa cultura é afetada por muitos fatores bióticos e abióticos, em maior ou menor intensidade. Dentre os fatores bióticos se destacam as pragas, que todos os anos causam grandes prejuízos, diminuindo a produtividade das lavouras. Uma das pragas de grande importância na cultura do café arábica (Coffea arábica) é o bicho-mineiro-do-cafeeiro (BMC) Leucoptera coffeella (Guérin Mèneville & Perrottet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae), sendo considerada a principal praga da cultura no Brasil, devido à sua ocorrência generalizada nos cafezais e aos prejuízos econômicos causados por esse inseto em relação à produção de café (SILVA et al., 2014).
As lesões diminuem a capacidade de fotossíntese em função da redução da área foliar e, quando ocorrem ataques intensos, observa-se a desfolha da planta. Como consequência da desfolha, pode ocorrer redução da produção e da longevidade das plantas, podendo levar até dois anos para se recuperar (REIS et al., 2002).
Embora não se saiba exatamente qual a população do BMC capaz de causar dano econômico, trabalhos de pesquisa mostram que, para as condições do Sul de Minas, quando 30% de folhas minadas não apresentarem rasgaduras provocadas por vespas predadoras, nos terços médio e superior das plantas, principalmente entre os meses de junho e outubro, há necessidade de ser efetuado o controle químico (RODRIGUES et al., 2012).
A densidade populacional do BMC apresenta correlação com as variáveis climáticas, o que pode ser muito afetada pelo aquecimento global. A temperatura apresenta correlação positiva, já a precipitação e a umidade relativa do ar apresentam uma correlação negativa, necessitando de períodos de estiagem prolongados para surtos na incidência. Desse modo, a intensidade de incidência varia de ano para ano numa mesma lavoura, entre lavouras de uma mesma região e entre regiões cafeeiras (MACHADO et al., 2014).
A flutuação populacional do BMC consiste no monitoramento do inseto em qualquer estádio de desenvolvimento, determinando a intensidade de ataque nas lavouras. Assim, é possível conhecer as épocas de ocorrência do inseto, as condições favoráveis para o seu desenvolvimento e em consequência a época certa de controle. Diante do exposto, o objetivo desse trabalho foi verificar a influência das condições climáticas na evolução do BMC no Sul de Minas Gerais no período de 2017 a 2020.

Resumo

No Brasil a área de produção de café, mais da metade da produção nacional, concentra-se no estado de Minas Gerais. Dentre os fatores bióticos, artrópodes-pragas têm causado sérios prejuízos, onde se destaca o bicho-mineiro-do-cafeeiro (BMC) que pode causar intensa desfolha, provocando redução da área fotossintética, afetando a produtividade. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho foi verificar a influência das condições climáticas na evolução do BMC no Sul de Minas Gerais no período de 2017 a 2020. O trabalho foi realizado no Campo Experimental da Epamig de Três Pontas, em uma área com 1000 plantas de cultivar Catuaí amarelo IAC 17 com espaçamento de 3,3 x 0,70 m. As avaliações foram realizadas mensalmente, em dez plantas ao acaso, no período de 2017 a 2020. Fez-se a contagem de folhas com lesões para cada amostragem, a partir desses dados obteve-se a média mensal de incidência. Também foram coletados os dados mensais de precipitação acumulada e temperatura média. Os principais picos de incidência do BMC ocorreram nos meses de setembro a novembro e as maiores percentagem ocorreram durante eventos climáticos de seca prolongada associada a altas temperaturas nos anos de 2017 e 2020.

Objetivos

Verificar a influência das condições climáticas na evolução do BMC no Sul de Minas Gerais no período de 2017 a 2020.

Material e Método

O experimento foi conduzido no Campo Experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) no município de Três Pontas - CETP, Minas Gerais, no período de 2017 a 2020. O município está localizado nas coordenadas 21° 20′ 37″ Sul, 45° 28′ 51″ Oeste, a uma altitude de 934 metros. O clima predominante é classificado como Clima subtropical úmido (Cwa) segundo a classificação climática de Köppen.
Para realização do monitoramento do BMC foi demarcado um talhão com 1000 plantas, implantado com a cultivar Catuaí amarelo IAC 17 no espaçamento de 3,3 x 0,70 m. Esta área não recebeu nenhum tipo de tratamento com inseticida durante o período de avaliação. Os tratos culturais foram realizados segundo recomendações para a cultura do cafeeiro (GUIMARÃES et al., 1999). Dentro da área foram selecionadas 10 plantas de modo aleatório e representativo. Foram avaliadas de cada planta 10 folhas no terceiro ou quarto par de folhas do ramo, contados da ponta para o ápice no terço médio da planta, totalizando 60 folhas/planta. As amostragens foram realizadas mensalmente avaliando-se o número de folhas com lesões de BMC (minas intactas e minas predadas). A incidência do BMC foi determinada a partir da fórmula seguinte:
Incidência (%) = (n° de folhas com lesões / n° total de folhas coletadas) x 100.

Resultados e discussão

A flutuação populacional do BMC e as variáveis climáticas mensais, precipitação acumulada e temperatura média, durante o período de 2017/18 no CETP são apresentadas na Figura 1. Para 2017 a incidência da praga manteve-se baixa até o mês de agosto, não ultrapassando 1,5%. Já em outubro houve um aumento da incidência, juntamente com o aumento da temperatura, atingindo aproximadamente 50% em novembro. Já para 2018 a incidência da praga manteve-se baixa até o mês de abril, quando teve um aumento até junho atingindo 19% e depois caiu, voltando a subir em agosto onde atingiu pico de 20%.
A evolução do BMC durante o período de 2019/20 no CETP é apresentada na Figura 2. Para o ano de 2019, observa-se que a incidência do BMC manteve níveis abaixo de 20% até setembro. Em outubro houve elevação na incidência alcançando um pico de 53%, provavelmente devido à diminuição da precipitação acumulada mensal nos cincos últimos meses, diminuindo novamente a partir de novembro com o aumento da precipitação. Em 2020 observa-se um pequeno pico do BMC em abril (11%) e um segundo pico mais alto em setembro (76%). Em setembro houve elevação na incidência provavelmente devido à diminuição da precipitação acumulada mensal no período de maio a agosto, diminuindo novamente a partir dos meses subsequentes quando se tem um aumento da precipitação e aumento da temperatura média, conforme a Figura 2.
Observou-se a ocorrência da praga durante todo o período amostrado com picos de incidência variando em função do ano. Essa variação está relacionada principalmente com os fatores climáticos tais como o aumento da temperatura média mensal e baixa quantidade de precipitação acumulada, os quais exercer um papel fundamental na dinâmica populacional do BMC.

Figura 1 – Porcentagem de incidência do BMC, precipitação acumulada mensal (mm) e temperatura média mensal (°C), Três Pontas, nos anos de 2017 e 2018.

Figura 2 – Porcentagem de incidência do BMC, precipitação acumulada mensal (mm) e temperatura média mensal (°C), Três Pontas, nos anos de 2019 e 2020.

De acordo com Souza et al. (1998), na região Sul-sudoeste de Minas Gerais, períodos secos do ano, com início de junho a agosto, ocorre o pico da incidência do BMC, declinando a partir de outubro, porém observou-se nesse estudo que devido aos eventos de seca mais prolongados nos anos de 2017 e 2020, o período de incidência da praga também foi maior.

Conclusões/Considerações Finais

Os principais picos de incidência do BMC na região de Três Pontas, Sul de Minas Gerais, ocorreram nos meses de setembro a novembro e as maiores percentagem ocorreram durante eventos climáticos de seca prolongada associada a altas temperaturas nos anos de 2017 e 2020. A incidência do bicho-mineiro do café (BMC) é muito dependente de períodos de seca e alta temperatura, por isso é fundamental o monitoramento dos eventos climáticos para se criar estratégias de manejo que minimizem a utilização de agrotóxicos, proporcionando mais segurança alimentar à população e economia para o cafeicultor.

Referências Bibliográficas

MACHADO, J.L. SILVA, R. A.; SOUZA, J. C.; FIGUEIREDO, U.J. Mudanças climáticas e as principais pragas do cafeeiro. Informe Agropecuário (Belo Horizonte), v. 35, n. 280, p. 7-13, 2014.
REIS, P. R.; SOUZA, J. C.; VENZON, M. Manejo Ecológico das principais pragas do cafeeiro. Informe Agropecuário, v. 23, p. 83–99, 2002.
RODRIGUES G. J.; TEIXEIRA, M. M.; FERNANDES, H. C.; ALVARENGA C. B. Otimização da pulverização de inseticidas visando o controle do bicho-mineiro do cafeeiro. Revista Agrotecnologia, Anápolis, v.3, n.1, p.70-80, 2012.
SILVA, R. A.; SOUZA, J. C.; REIS, P.R.; CARVALHO, T.A.F.; ALVES, J.P.; MATOS, C.S.M. Bicho-mineiro-do-cafeeiro. Informe Agropecuário (Belo Horizonte), v. 35, n. 280, p. 14-22, 2014.
SOUZA, J.C. de.; REIS, P.R.; RIGITANO, R. L. de O. Bicho-mineiro do cafeeiro: biologia, danos e manejo integrado. 2.ed. rev. aum. Belo Horizonte, MG: EPAMIG, 1998. 48 p. (EPAMIG. Boletim Técnico, 54).

Palavras Chave

Coffea arabica, densidade populacional, inseto, monitoramento.

Arquivos

Área

Grupo IX: Outras áreas de interesse

Instituições

EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DE MINAS GERAIS - Minas Gerais - Brasil

Autores

ALESSANDRO BOTELHO PEREIRA, CHRISTIANO SOUSA MACHADO MATOS, MARGARETE MARIN LORDELO VOLPATO, ROGÉRIO ANTÔNIO SILVA