Dados do Trabalho
Título
QUALIDADE SENSORIAL DE CAFE ARABICA PRODUZIDO NA REGIAO LITORAL NORTE DE SANTA CATARINA, BRASIL.
Introdução
O café é uma das principais culturas agrícolas no Brasil, maior produtor e exportador mundial deste grão, e o segundo maior consumidor desta que é a bebida mais consumida no mundo. A cafeicultura foi uma importante atividade econômica no Estado de Santa Catarina, quando figurava entre as principais lavouras da região litoral centro norte catarinense, tanto que permanece representada na bandeira do Estado, onde simboliza as lavouras do litoral (BISSO e SOBREIRA, 2017). As primeiras lavouras de café foram introduzidas em Santa Catarina na década de 1780 e à época, destacavam-se pela elevada qualidade dos grãos, em comparação com o café produzido em outras regiões do Brasil (Reis Várzeas, 1984). As regiões do Vale do Itajaí e do litoral centro norte constavam como aptas para o cultivo desta cultura no primeiro zoneamento de aptidão climática para a cafeicultura no Brasil (CARVALHO, 1977 apud MEIRELLES et al., 2007).
Após a implementação da política pública nacional de erradicação de cafezais como medida de regulação do estoque, implementada na década de 1960, a cultura entrou em declínio e passou a ser praticada no âmbito da subsistência (PANAGIDES, 1968). Atualmente, ainda podem ser vistos exemplares de cafeeiros que ainda permanecem cultivados, em inúmeras propriedades rurais familiares dispersas por todo o litoral catarinense. O cultivo remanescente geralmente apresenta um número reduzido de plantas situadas ao longo de estradas internas, junto ao sombreado florestal ou de plantações de bananeiras. Pode-se observar nestas plantas remanescentes, considerável desenvolvimento vegetativo, aspecto fitossanitário e produtividade, levando-se em conta que seu cultivo ocorre desprovido de emprego de tecnologias modernas, o que corrobora com os registros históricos, a adaptação da cultura e o potencial da cafeicultura na região litoral catarinense.
Além da adaptação edafoclimática e produtividade da cultura, a qualidade dos graõs produzidos é um fator muito importante para viabilizar o cultivo comercial do café. Trabalhos recentes de Bisso e Sobreira (2017) e Bisso et al. (2019), indicam que Santa Catarina possui áreas com condições climáticas potencialmente aptas para o cultivo de café arábica especial.
Resumo
A cafeicultura foi uma atividade de expressão econômica em séculos passados em Santa Catarina. Estudos recentes de Bisso et al. (2019), comprovam o potencial da região litorânea de SC para o cultivo do café arábica. Aspectos culturais e de riqueza histórica, associados ao diferencial climático decorrente da elevada latitude e baixa altitude da região, permitem a produção de café arábica de elevado valor agregado no mercado de cafés especiais. O objetivo deste trabalho foi determinar a qualidade sensorial da bebida de amostras de grãos cafés produzidos em municípios do norte catarinense. Para determinação da qualidade de grãos, foram coletadas amostras de frutos de Coffea arabica em uma populações de plantas estabelecidas em pomares de banana localizados nos municípios de Araquari, Corupá, Luiz Alves e Itapema. A caracterização da qualidade sensorial utilizou a metodologia de avaliação da Specialty Coffee Association of America - SCAA (2014). As amostras obtiveram a seguinte pontuação final da qualidade sensorial: Araquari, 82,25 pontos, com notas de chocolate e caramelo; Corupá, 82,50, com notas doce, caramelo; Luiz Alves, 82,50, com notas doce, caramelo, equilibrado; Itapema, 84,75, frutas amarelas, doce. De acordo com resultados obtidos, pode-se concluir que: 1. A região litoral de Santa Catarina possui potencial para produção de cafés especiais. 2. Mais estudos acerca da adaptabilidade e do ciclo fenológico de diferentes variedades de C. arábica nas condições edafoclimáticas do litoral catarinense, bem como do manejo de cultivo e pós-colheita devem ser realizados.
Palavras-chave: Coffea arabica L.. Qualidade do café. Café Catarinense. Café especial.
Objetivos
Este trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade sensorial do café arábica produzido em diferentes municípios da região litoral norte do Estado de Santa Catarina.
Material e Método
O estudo foi realizado durante a safra de 2020, a partir da colheita de grãos de café arábica de plantas localizadas ao longo da região litoral centro e norte do Estado de Santa Catarina, Brasil. As colheitas foram realizadas entre os meses de maio e agosto, de acordo com a maturação dos frutos de cada planta. Foram coletadas 4 amostras em populações de plantas localizadas nos municípios de Araquari, Corupá, Luiz Alves e Itapema. Os frutos foram colhidos no estágio de maturação cereja maduro, sendo imediatamente lavados e secos à temperatura ambiente. As amostras foram encaminhadas para avaliação no Laboratório de de Análise de Qualidade da Bebida do IFSuldeMinas-Campus Machado. A caracterização sensorial e de qualidade da bebida do café, foi realizada de acordo com os critérios utilizados na avaliação da qualidade do café segundo Malta (2011).
Resultados e discussão
As amostras de café cereja provenientes de quatro municípios ao longo do litoral catarinense obtiveram nota final entre 8,25 e 84,75 pontos (Tabela 01), caracterizando essas como cafés especiais conforme a escala de classificação da Specialty Coffe Association of America (SCAA, 2014).
Todas as amostras apresentaram níveis de doçura dentro do padrão esperado para cafés especiais, com nota máxima para uniformidade, xícara limpa e doçura, indicando padrão de qualidade homogêneo no lote e ausência de defeitos na bebida (Tabela 01). Os demais atributos da bebida apresentaram notas semelhantes entre si nas amostras de Araquari, Corupá e Luiz Alves (7,50), exceto para Araquari, com acidez 7,25 e Itapema, que obteve o melhor desempenho na amostra, com notas entre 7,75 e 8,00. Os resultados demonstram que os cafés produzidos no litoral catarinense apresentaram bom equilíbrio entre as características sensoriais, não ocorrendo empobrecimento de qualidade em nenhuma delas.
Tabela 01 – Características sensoriais de amostras de café arábica colhidas em municípios da região litoral de Santa Catarina, SC, Brasil.
Atributos Pontuação final das amostras
Araquari Corupá Luiz Alves Itapema
Fragrância/Aroma 7,50 7,50 7,50 7,75
Sabor 7,50 7,50 7,50 8,00
Acidez 7,25 7,50 7,50 7,75
Corpo 7,50 7,50 7,50 7,75
Uniformidade 10,00 10,00 10,00 10,00
Xícara limpa 10,00 10,00 10,00 10,00
Balanço 7,50 7,50 7,50 7,75
Finalização 7,50 7,50 7,50 8,00
Doçura 10,00 10,00 10,00 10,00
Defeitos 0,00 0,00 0,00 0,00
Balanço Geral 7,50 7,50 7,50 7,75
Pontuação Final 82,25 82,50 82,50 84,75
Notas Chocolate
Caramelo Doce
Caramelo Doce
Caramelo Frutas amarelas
Doce
O melhor desempenho na pontuação final da amostra de Itapema, possivelmente deve-se ao melhor nível de fertilidade do solo, pelo fato das plantas estarem localizadas em área de cultivo sob certificação orgânica de longa data. No caso de Araquari, que obteve desempenho um pouco inferior na pontuação final (8,25), devido à maior acidez da bebida, sendo que obteve a menor nota neste atributo, 7,25 pontos. Este resultado também deve estar relacionado às condições edáficas, haja vista localizar-se em área arenosa de restinga litorânea, com níveis de argila inferiores a 10% e pouco emprego tecnológico no manejo.
Observa-se que foram identificadas variações nas características de fragrância e sabor entre as amostras, com maior frequência para “caramelo” e “doce”, presentes em três amostras. A amostra de Araquari diferenciou-se por apresentar notas “chocolate”, sendo que a amostra de Itapema apresentou maior complexidade e a percepção do aroma e sabor “frutas amarelas”.
Conclusões/Considerações Finais
De acordo com resultados obtidos, pode-se concluir que: 1. A região litoral de Santa Catarina possui potencial para produção de cafés especiais. 2. Mais estudos acerca da adaptabilidade e do ciclo fenológico de diferentes variedades de C. arábica nas condições edafoclimáticas do litoral catarinense, bem como do manejo de cultivo e pós-colheita devem ser realizados.
Referências Bibliográficas
BISSO, F. P.; SOBREIRA, F. M. Cafeicultura catarinense: resgate histórico e potencialidades. In: Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, 43º, Anais, 2017.
BISSO, F.P; RICE.W.S; ZAMBONIM, F.M.; NACHTIGALL, A.M.; PAIVA, L.C. SCHMEDLER, G.; OLIVEIRA, D. Produção de cafés especiais no estado de Santa Catarina, Brasil: aspectos climáticos e avaliação qualitativa de grãos. Anais do X Simpósio de Pesquisas Cafeeiras. Vitória- ES. 2019.
MALTA, M.R. Critérios utilizados na avaliação da qualidade do café. In: Informe Agropecuário. Belo Horizonte, v. 32, n. 261, p. 123, out./dez. 2011.
MEIRELES, E. J. L.; VOLPATO, M. M. L.; ALVES, H. M. R. ; VIEIRA, T. G. C. . Zoneamento agroclimático: um estudo de caso para o café. Informe Agropecuário (Belo Horizonte), v. 28, p. 50-57, 2007.
PANAGIDES, S. Erradicação do café e diversificação da agricultura brasileira. IPEA: Rio de Janeiro. 1969.
REIS VÁRZEA, V. Santa Catarina: a ilha. Florianópolis: IOESC, 1984.
SCAA-Specialty Coffee Association of America SCAA Protocols -Cupping Specialty Coffee.SCAA, Santa Ana.7p. 2014.
Palavras Chave
Coffea arabica L.. Qualidade do café. Café Catarinense. Café especial.
Arquivos
Área
Grupo I: Produção Agrícola (Vegetal)
Instituições
Instituto Federal Catarinense - Campus Araquari - Santa Catarina - Brasil
Autores
FERNANDO PRATES BISSO, GEVERSON SCHMEDLER, DAIANE OLIVEIRA, JHONNY STEFFEM, HELOISA DELMONEGO HESS, LEANDRO CARLOS PAIVA, RODRIGO MARTINS MONZANI, FABIO MARTINHO ZAMBONIM